Na quarta-feira (24), em nossa contagem regressiva rumo à Copa do Mundo da África do Sul, falamos sobre a grande responsabilidade que Luis Fabiano terá usando a camisa 9 do Brasil. Mas, nada que gols não resolvam. O problema é do jogador que não tem a chance de balançar as redes, aliás, que não quer nem saber de ver rede balançando. [nggallery id=14376] É muito difícil o goleiro passar de ator coadjuvante para principal. Se fizer cinco belas defesas e seu time vencer por 1 a 0, crédito para o “gênio” que achou um gol em meio a um jogo truncado. Se pega um pênalti, o adversário bateu mal. Resumindo, o camisa 1 tem uma função ingrata, que inspira frases como “Onde o goleiro pisa não nasce grama”.Na história dos mundiais, há exemplos clássicos de arqueiros brasileiros que sentiram na pele as consequências de uma falha embaixo da meta. Quem aprendeu isso da pior maneira possível foi Barbosa, único goleiro negro a defender o gol brasileiro em uma Copa do Mundo antes de Dida, que foi o titular no último mundial e um dos poucos que se salvaram do vexame brasileiro na Copa da Alemanha.O dia era 16 de julho de 1950. Quase 200 mil pessoas lotavam o estádio do Maracanã para assistir ao que seria o primeiro título do Brasil em Copas do Mundo. Do outro lado, o Uruguai, até então único time campeão do mundo, junto com a Itália, que somava dois títulos. Os brasileiros encantaram durante todo o mundial e jogavam a última partida com a vantagem do empate para levantar a taça.Após um primeiro tempo nervoso, o Brasil entrou com tudo e Friaça logo abriu o placar, aos 2 minutos da segunda etapa. O Maracanã explodiu! O público ficou apreensivo com o empate aos 21 minutos, mas, ainda assim, a taça do mundo era nossa. Porém, a apenas 10 minutos do final da partida, Ghiggia invadiu a área pela direita e, com um chute que passou entre Barbosa e a trave, deu o segundo título do torneio para o Uruguai. Pior para o goleiro brasileiro, que foi eleito o vilão pela torcida e pela imprensa. Para muitos, o segundo gol do Uruguai teria sido um frango. Contestável, já que o chute, apesar de defensável, foi muito próximo do gol brasileiro.Na época, Barbosa era considerado um dos melhores goleiros do mundo, se não o melhor. Amargurou o esquecimento após o fatídico 16 de julho, que ficou conhecido como Maracanazo. Em 1993, lembrando a injustiça que o acompanhou por toda sua vida, Barbosa disse uma frase que entrou para a galeria das inesquecíveis do futebol: “No Brasil, a pena máxima para qualquer crime é de 30 anos. Há 43 anos que eu pago por um crime que não cometi”. Sete anos depois, Barbosa morreria sem o merecido perdão. Uma das maiores injustiças da história do futebol.Na linha dos grandes goleiros brasileiros, Gilmar foi outro que fez história, mas, ao contrário de Barbosa, teve o reconhecimento de todos. Defendeu o gol brasileiro nas Copas de 1958, 1962 e 1966. Para muitos, o bicampeão do mundo é o melhor goleiro brasileiro de todos os tempos. Em 1970, Félix também deu segurança para o Brasil chegar ao título, apesar de não passar tanta segurança.Nas décadas de 1980 e 1990, a Europa começou a tirar os craques do futebol brasileiro. Os únicos que não tinham credibilidade lá fora eram os goleiros, salvo raras exceções. Uma delas foi Taffarel, contratado pelo Parma, da Itália, em 1990. No mesmo ano, foi o goleiro da pífia campanha do Brasil no país da bota. Na Copa seguinte, em 1994, Taffarel cresceu, passou de desconfiança a grande salvador e fez um torneio impecável.Na decisão, pegou dois pênaltis contra a Itália e foi o herói do tetra. O bordão “Sai que é sua Taffarel!”, de Galvão Bueno, nunca foi tão ouvido como na Copa dos EUA. Na mesma Copa, a Fifa finalmente resolveu reconhecer a importância do goleiro e passou a premiar o melhor da posição durante o torneio com o Troféu Lev Yashin, uma justa homenagem ao goleiro soviético, um dos melhores de todos os tempos. Apesar da participação decisiva de Taffarel, o belga Michel Preud’homme foi o primeiro vencedor.Na Copa da França, mais uma vez Taffarel foi decisivo a favor da seleção brasileira. Apesar de contestado, já que muitos pediam Dida ou Carlos Germano como titular, Taffarel jogou bem, pegou pênalti na semifinal contra a Holanda, mas não conseguiu parar a França na final. O melhor goleiro daquela Copa foi justamente o francês Fabien Barthez. Injusto.Em 2002, o Brasil foi campeão com um belo futebol. Boa parte desse triunfo se deve à segurança que Marcos passava debaixo das traves. O goleiro foi impecável, com destaque para a partida final contra a Alemanha, na qual fez lindas e decisivas defesas, várias quando o placar ainda estava em branco. Oliver Kahn, que tomou um belo frango na decisão, foi eleito o melhor goleiro em 2002. E a Fifa fez mais! Com um Ronaldo inspiradíssimo, artilheiro do torneio com 8 gols, e um Rivaldo voando, maestro brasileiro do penta, o goleiro alemão foi também eleito o melhor jogador da Copa, feito inédito até hoje. Não deu pra entender. Coisas da Fifa.Hoje, a torcida brasileira tem total confiança em seu goleiro. Júlio César é, talvez, o jogador mais unânime da seleção que vai à África do Sul. E não é só o Brasil que pensa assim. Júlio César joga na Inter de Milão, Itália, país que sempre teve muita tradição em formar grandes goleiros. Até os exigentes italianos consideram o brasileiro o melhor do mundo na posição. E Júlio César não entra como um novato em Copas, já que esteve em 2006, como terceiro goleiro do Brasil. Soube esperar. Ou melhor, não esperou, não ficou parado, trabalhou, evoluiu muito na Itália, batalhou e hoje é, sim, o melhor do mundo! Será que ele conquistará o único título que ainda não temos, o Prêmio Lev Yashin? Vamos torcer pelo nosso camisa 1.
MAIS:
– Conheça as cidades sede com nosso infográfico
– Página especial da Copa do Mundo de 2010 no iG
– Site oficial da Copa do Mundo de 2010
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