Todos os corações do mundo voltados para a bola

No sábado (1), falamos sobre os filmes oficiais das Copas do Mundo da Fifa. Um dos mais aclamados dos longas dos mundiais, Todos os Corações do Mundo, filme da Copa do Mundo de 1994, foi dirigido pelo brasileiro Murilo Salles. O diretor falou de sua difícil experiência de comandar o filme, mas, segundo o próprio, uma experiência espetacular! Confira o papo com o site da Brasileiros:Brasileiros – Como o projeto de dirigir o filme de 1994 surgiu para você?Murilo Salles – Eu fui chamado por um produtor brasileiro, ligado à CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que ganhou a concorrência para fazer o filme. Eles estavam procurando um diretor que gostasse de futebol e tivesse uma experiência como cineasta. Na época, eu tinha experiências no cinema, mas era muito mais um publicitário do que um cineasta.Na verdade, a história verdadeira e que nunca foi publicada é que o cara que ganhou o direito de produzir o filme era um trambiqueiro. Aí descobriram, pois na hora de pagar a Fifa, ele não pagou. Porque é assim: você paga para a Fifa, o produtor paga para ter o direito de fazer o filme oficial da Copa. Igual à televisão, que tem de comprar o direito de transmitir os jogos. A Fifa é o maior negócio do mundo, é inacreditável! E ela ainda fica com os direitos, aquela matéria é dela, forever. Tivemos direitos durante quatro ou cinco anos de explorar por meios de DVD, cinema, enfim… Depois é dela, hoje o filme é da Fifa. [nggallery id=14322] Brasileiros – Não dá um certo aperto saber que você dispensou tanto esforço em uma produção que não te pertence?M. S. – Claro que não. Eu fiz um filme bacana, tá lá o meu nome, todo mundo me elogia até hoje, depois de quase 20 anos de filme. É considerado um dos melhores filmes de Copa. Eu só sinto que eu queria fazer outro (risos). Pelo menos, agora eu sei como se faz, da primeira vez eu tive que descobrir (risos).Brasileiros – O filme é muito diferente dos outros feitos nas Copas anteriores. Como a ideia começou a ser elaborada?M. S. – O filme foi construído muito brincando com essa coisa de ficção e foi meio natural essa criação. Eu fui contratado dois meses antes de começar a Copa, quer dizer, a minha negociação com os produtores começou dois meses antes da Copa e só faltando 40 dias que eu realmente fui contratado. A gente chegou aos Estados Unidos na véspera da Copa. Foi o tempo de montar uma equipe, arrumar o passaporte de todo mundo e embarcar. Aí, durante a Copa, fomos pensando e surgiu a ideia de montarmos quatro equipes em paralelo, para fazer uma coisa mais pessoal, ligada aos jogadores. A gente queria também mostrar muito a questão da paixão dos torcedores. À medida que as grandes equipes iam progredindo, a gente mandava uma equipe para o país, como fizemos com a Itália, para acompanhar de perto.Mas, a estrutura narrativa do filme foi sendo encontrada na montagem. A gente sempre teve essa coisa da torcida, da paixão, e uma coisa do jogador, de privilegiar uma ação direta, procurando pequenos causos para sair do normal. Acabou sendo uma coisa muito legal porque foi toda uma equipe que abraçou o projeto, eu tive grandes colaboradores, gente muito boa. O filme tinha certa grana também, fizemos um filme top. É aquela coisa, tendo dinheiro não tem erro, a gente faz bacana (risos).Brasileiros – Quanto foi gasto para toda a produção?M. S. – US$ 8 milhões, muito dinheiro!Brasileiros – Você já tinha visto os filmes das Copas passadas?M. S. – Quando me contrataram, minha primeira experiência foi ver os outros filmes. Fiquei meio deprimido. Depois, comecei a ver os filmes do Canal 100, que já são mais bacanas. Mas a coisa foi meio na pressão mesmo, pois era muito pouco tempo, ainda tinha de escolher equipe, eu saí ligando pra todo mundo, e deu certo. Acho que se todos que estiveram na produção do filme não tivessem vestido a camisa, esse filme não teria ficado tão bom, porque tava muito desorganizado, chegávamos a vários lugares e nem reserva tinha.Brasileiros – Foi como a seleção brasileira, ninguém acreditava e no fim deu certo.M. S. – Isso, foi um pouco isso. Agora, eu me cerquei dos melhores profissionais brasileiros, levei 100 pessoas pra lá.Brasileiros – E o seu trabalho lá, como era sua rotina?M. S. – Basicamente, eu ficava em um quarto de hotel em Nova York, vendo cada jogo em uma televisão, já que muitos eram no mesmo horário, com milhares de rádios falando com a equipe e os câmeras. Eu fui um pouco antes para lá começar a me posicionar e foi assim, na base das pequenas descobertas e, claro, câmeras maravilhosas pegando cenas incríveis. Mas chegou uma hora que eu achei que ia morrer. Tinha essa coisa que Nova York era um horário, daí eu tinha de acordar muito cedo por causa de Los Angeles e São Francisco, na costa oeste. Depois, tinham os jogos da costa leste, e eu vendo tudo em seis televisores, passando para as equipes as câmeras que estavam boas e as que não estavam.Brasileiros – Foi uma overdose de futebol.M. S. – Caramba, foi intenso! Mas foi muito legal, eu fico louco pra fazer outro. Eu queria ver se existe a possibilidade de eu fazer aqui no Brasil (Copa de 2014), adoraria, seria genial!Brasileiros – Você imaginou que o Brasil seria campeão daquela Copa?M. S. – Nunca pensei! Imagina dirigir um filme em que a Romênia saísse campeã!? A Argentina também estava muito boa! Se o Maradona não tivesse cheirado aquelas fileiras (risos)… Foi espetacular, e teve essa felicidade de o Brasil ser campeão novamente, após 24 anos. A gente foi pé quente e isso deu muito “tesão” depois, na hora de montar o filme. Foi uma experiência muito única, muito especial!Brasileiros – Como foi o desafio de fazer um filme precisando mostrar a paixão pelo futebol, em um país como os Estados Unidos, que, na época, não tinham tradição nenhuma no esporte?M. S. – Isso foi uma coisa bem legal! Fomos atrás do presidente da liga americana de futebol (Major League Soccer, MLS, recém criada) e ele falando aquelas coisas tipo “control the ball”, os fundamentos, be-a-bá do futebol… Imagina!?Brasileiros – Futebol para americano é jogado com a mão, né…M. S. – Pois é, exatamente. Foi muito incrível, porque os Estados Unidos, de certa forma, não perceberam que teve uma Copa do Mundo de soccer lá. Assim, é claro, Nova York entendeu, porque Nova York tem italiano pra caramba, tem irlandês pra caramba. Mas, Illinois… Imagina!? Nebraska!? Aconteceu um pouco na Califórnia, mas onde aconteceu mesmo foi em Nova York, onde também tem muito brasileiro, mexicano. Apesar de o México não estar naquela Copa, os mexicanos gostam muito de futebol. Era um evento muito midiático, da televisão para o mundo.Brasileiros – E se você fosse chamado para dirigir o filme desse ano?M. S. – Não sei se esse ano eu iria. Eu quis fazer o de 1998, daí a gente perdeu e foram uns ingleses. A Fifa se deu mal, o filme é muito ruim (risos)! Eu vou tentar aqui no Brasil, mas tem muito lobo faminto em cima da bola (risos).Brasileiros – Falando agora de futebol, qual é seu palpite para a Copa de 2010?M. S. – Eu acho que vai ser uma Copa sem palpites, tá todo mundo muito igual. O pessoal fala muito do Messi, mas o Messi ontem jogou bola!? (28 de abril, o Barcelona foi eliminado pela Inter de Milão na semifinal da Liga dos Campeões, apesar de ter vencido por 1 a 0, no Camp Nou) Tem a Espanha, mas a Espanha não tem tradição nenhuma, amarela. A Argentina amarela na hora H também. A Itália é um time sempre chato, a França, que foi colocada na Copa pela Fifa, também. Acho que o Brasil é um grande candidato como sempre.Mas, posso falar a verdade: Copa do Mundo não é o meu campeonato preferido, eu gosto de pontos corridos, tem cada jogo!Brasileiros – E, se o Brasil ganha, não tem ninguém para tirar sarro…M. S. – É, exatamente. O melhor campeonato é o da cidade, você tira sarro com todos os seus amigos quando seu time ganha. Isso que é bom (risos)!

MAIS:
– Veja o nosso infográfico sobre os estádios da Copa
– Conheça as cidades sede com nosso infográfico
– Página especial da Copa do Mundo de 2010 no iG
Site oficial da Copa do Mundo de 2010


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