Quando três brasileiros chegaram às seminais da etapa do mundial de surf em Trestles, na Califórnia (EUA), o triunfo nacional parecia próximo.
Integravam a disputa o atual campeão mundial Gabriel Medina, o (então) líder do ranking Adriano de Souza e Filipe Toledo, jovem surfista conhecido pelos aéreos impressionantes e que já tinha vencido etapa em 2015.
Mas quem torcia fervorosamente pelos representantes verde-amarelos pode ter se esquecido de um antigo concorrente deles: Mick Fanning.
Conhecido mundialmente não pelos seus três incríveis títulos mundiais, que lhe dão o crédito de um dos melhores surfistas da história, mas por ter sobrevivido a um encontro com um tubarão durante uma transmissão ao vivo de campeonato, o australiano é talentoso e frio, como deu para perceber com a história do monstrengo marítimo.
Com toda a pressão para cima do líder do campeonato, o “Mineirinho” Adriano de Souza, Fanning, que era vice-líder, barrou a possibilidade de uma final brasileira mandando o campeão Medina para casa nas semifinais.
A final entre Mineirinho e Fanning passava a valer muito mais: quem ganhasse tomava a ponta e ganhava confiança na disputa pelo título mundial.
Fanning usou seu arsenal de manobras para desbancar Adriano, que viu a chance de se isolar no topo da tabela escapar das próprias mãos.
Não foi frustração o que aconteceu com os brasileiros, que até poderiam ter ganhado a etapa. Foi superioridade. Discussões intermináveis sobre quem os juízes pontuaram mais ou menos não mudam o fato de que Fanning é um surfista de habilidade extrema e que, do alto de seus 34 anos, ainda tem uma longa carreira pela frente. (O onze vezes campeão Kelly Slater ainda compete com a garotada, mesmo com 43 anos de idade).
Acima de tudo, ele jogou um belo balde de água fria no calor da “Tempestade Brasileira”, ou Brazilian Storm, como é conhecida a geração bem-sucedida de surfistas brasileiros que tiveram reconhecimento popular após o título de Medina.
Quem começou a ver o surfe agora pode até achar que o Brasil sempre foi uma potência, mas os resultados da era pré-Medina estavam longe de fazer um brasileiro chegar ao título mundial da categoria. O país começa a ter ídolos nacionais no esporte só agora e trabalha, ainda que com dificuldade, para que as gerações futuras possam chegar ao lugar onde Medina chegou. A boa notícia é que grandes atletas têm surgido e o cenário é sem dúvida promissor.
Só que diferentemente das águas daqui, a Austrália é uma potência histórica no surfe e que jamais pode ser subestimada. O país tem 16 títulos mundiais de surfe na conta. Atualmente é a nação com maior número de atletas na Liga Mundial: 12, comparado com sete brasileiros. O país tem tradição no esporte e possui praias muito mais abençoadas pelas ondas do que as brasileiras.
A história do tubarão, que chocou o mundo pelo impacto visual e que por sorte não terminou de forma trágica, pode sim ser uma motivação a mais para o tetracampeonato de Fanning, que foi vice no ano passado. Apesar do fato de que surfistas profissionais, principalmente de locais como Estados Unidos e Austrália, estejam de certa forma acostumados com a presença de tubarões na água, uma experiência dessas poderia abalar o psicológico de qualquer surfista, mas não Mick Fanning: ele já voltou a competir na etapa seguinte, venceu a segunda e está determinado para botar a mão no caneco.
O que vem por aí
Os brasileiros vão ter que se esforçar muito para conseguir desbancar o líder. Das três etapas seguintes que vão definir o torneio, Fanning já venceu duas no passado:
Hossegor, na França, e Peniche, em Portugal. A última, de Pipeline, no Havaí é sempre uma incógnita.
Fanning lidera com 44,700 pontos, seguido por Adriano de Souza com 42,950 e Filipe Toledo com 39,700. Gabriel Medina, em sétimo colocado, tem 30,650. Uma vitória em alguma das etapas significa 10,000 pontos na conta.
O retrospecto brasileiro nas etapas finais do ano pode não ser igual ao de Fanning, mas tem também sua importância. Mineirinho venceu em Portugal em 2011 e sabe que pode chegar lá de novo.
Medina foi segundo colocado no Havaí no ano passado, ainda em êxtase por ter ganho o título no meio da etapa. A França, próximo destino dos surfistas, já teve Gabriel Medina campeão e, no ano passado, o brasileiro Jadson André foi vice. A disputa está acirrada e a competitividade só faz aumentar as expectativas pela definição do campeão mundial de 2015.
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