A organização da Rio 2016 recebeu uma notícia ruim nesta sexta-feira 24, a apenas 42 dias da cerimônia de abertura. A Agência Mundial Antidoping (Wada, a sigla em inglês), suspendeu o credenciamento do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), proposto como responsável pelos exames de sangue de urina dos atletas dos jogos olímpicos e paralímpicos. Sem especificar o motivo da decisão, a Wada alegou “não conformidade com o Padrão Internacional de Laboratórios”.
Em nota publicada em seu site oficial, com o título Wada suspende o credenciamento do laboratório do Rio, a agência mundial informa que o LBCD está “proibido temporariamente de realizar testes de sangue e urina vinculados ao movimento olímpico”. E acrescenta que o laboratório brasileiro poderá recorrer da decisão no Tribunal Arbitral dos Esportes (TAS) no prazo de 21 dias a contar da notificação, feita na quarta-feira 22. “Enquanto isso, a Wada trabalhará em estreita colaboração com o laboratório do Rio para resolver o problema identificado”, destacou o diretor da agência, Olivier Niggli. Os laboratórios antidoping de Lisboa, Madri, Pequim e Johanesburgo também foram suspensos.
Durante a suspensão, as amostras inicialmente destinadas ao LBCD serão enviadas “de forma segura e rápida” para outros laboratórios credenciados pela Wada no mundo. Existe também a possibilidade de a agência mundial autorizar, no período, exames no laboratório brasileiro conduzidos por técnicos estrangeiros.
A direção do LBCD mostra, no entanto, otimismo em relação a uma solução positiva do problema. “Uma nova inspeção da Wada está marcada para o início do mês de julho”, declarou a Brasileiros Jean Souza, assessor da UFRJ. “Temos plena confiança de que apresentaremos soluções neste período e também de que o credenciamento será novamente entregue ao LBCD ainda no mês de julho”, completou.
Souza não quis comentar a suspeita de que a “não conformidade” alegada pela Wada tenha relação com a suposta dificuldade dos técnicos brasileiros em utilizar os novos equipamentos do laboratório, totalmente reformulado para os Jogos. E informou que ainda não foi definido se o diretor do LBCD, Francisco Radler, comentará o assunto nos próximos dias.
Em nota, a UFRJ informou que “o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD) foi informado pela Agência Mundial Antidopagem (Wada) sobre a suspensão temporária do laboratório para análise de amostras. O LBCD reforça sua excelência, bem como sua capacidade técnica e ética para a realização das análises. O laboratório prevê que suas operações poderão voltar ao normal em julho, após a visita técnica do comitê da Wada. As equipes profissionais, instalações e equipamentos do LBCD representam o que há de mais moderno no mundo em controle de dopagem. Nos últimos doze meses, o LBCD foi aprovado nas auditorias realizadas in loco pela Wada e correspondeu com êxito às análises de todas as amostras com testes-cegos realizadas pela agência. Só este ano, o laboratório já realizou com sucesso cerca de duas mil análises de amostras de urina e sangue. Esse padrão de excelência está mantido e poderá ser conferido na próxima inspeção da Wada”.
O LBCD custou R$ 188 milhões, financiados pelos ministérios do Esporte e da Educação. Deste total, R$ 54 milhões foram gastos com equipamentos e o restante investido na construção da nova sede do Ladetec, no Instituto de Química da UFRJ.
A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, órgão do governo federal responsável pela política antidoping, divulgou a seguinte nota: “A ABCD reitera a importância do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), vinculado ao Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, para a realização dos testes antidopagem durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, e como legado técnico-científico na luta contra a dopagem no esporte. A ABCD confia no trabalho desempenhado pelo laboratório – com mais de 2,5 mil testes realizados desde sua inauguração – e tem a forte expectativa de que a instituição tomará todas as providências necessárias para que a suspensão provisória imposta preventivamente pela Agência Mundial Antidopagem – WADA-AMA – seja revista o mais breve possível”. Brasileiros tentou, sem sucesso, contato telefônico com o secretário-geral da ABCD, Marco Aurélio Klein, em seu celular.
O LBCD obteve credenciamento da Wada para operar normalmente no Pan do Rio 2007. Foi descredenciado logo depois da disputa. Em 13 de maio de 2015, após os investimentos do governo federal para a Rio 2016, recebeu nova liberação da agência. E, agora, uma suspensão provisória. Entrevistados em maio de 2016 por Brasileiros, Radler e Klein não mencionaram qualquer problema envolvendo o laboratório. Questionado uma semana atrás pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre o LBCD, o presidente da Wada, Craig Reedie, declarou que o laboratório era “um dos grandes legados dos Jogos”, o que fez a decisão ser recebida com surpresa pela maior parte da organização da Rio 2016.
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