Em entrevista à Brasileiros, o escritor e tradutor Marcelo Backes, autor de A Casa Cai (Companhia das Letras, 2014), entre outros, destaca que Günter Grass. morto nesta segunda-feira (13), acompanhou de perto a história da Alemanha desde a 2ª Guerra Mundial e a processou de modo abrangente em sua obra.
“[Grass abordou] a própria 2ª Guerra e seus escombros, diretamente, naquele que, na minha opinião, é seu maior romance, O Tambor (1959), princípio e centro de sua obra”, diz Backes. “Mas também trabalhou a reunificação alemã em Um Vasto Campo (1995) e causou furor duas vezes, recentemente: a primeira, ao revelar na autobiografia Nas Peles da Cebola (2006), que participou da SS, depois de ter dito a vida inteira que apenas havia servido na condição de soldado antiaéreo antes de ser preso pelos americanos em 1945. A segunda, ao escrever o poema O Que Precisa Ser Dito, em 2012, atacando Israel por representar um perigo à paz mundial, de resto sempre tão precária, e por supostamente planejar um ataque atômico que poderia aniquilar o povo iraniano. Um assunto bem atual, aliás, mas a crítica o chamou de antissemita e não o perdoou pelo que disse, devido a seu passado, embora Grass tenha atacado inclusive a Alemanha por fornecer submarinos ao exército israelense. Günter Grass foi, de um modo geral, uma espécie de consciência crítica da nação alemã, e penso que será difícil preencher seu lugar na Alemanha.”
Backes também comenta a recepção da obra de Grass no Brasil, lembrando que o escritor era publicado no País antes mesmo de ganhar o Nobel de Literatura, em 1999.
“Ele configura, portanto, uma exceção no âmbito da literatura em língua alemã que, quando chega ao Brasil, chega tarde ou apenas devido ao empenho pessoal de alguns mediadores culturais”, afirma. “Embora romances como O Tambor e Um Vasto Campo merecessem uma nova tradução e outras obras devessem ser traduzidas, várias das mais importantes de Grass já chegaram ao País, e isso acontece com bem poucos entre os escritores alemães contemporâneos, apesar da melhora acentuada da perspectiva nos últimos anos. Um aprofundamento em relação à sua obra, no entanto, talvez ainda esteja faltando. Mas é difícil exigir isso em relação a um autor que apenas caminha, sobretudo por causa de romances como O Tambor, a se tornar um clássico da literatura alemã.”
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