Hemingway ganha nova (e bela) roupagem

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Grandes escritores nem sempre costumam ter todos os seus livros ou mesmo os mais importantes disponíveis nas livrarias. Às vezes, nem mesmo em sebos. Por isso, quando uma editora decide relançar a obra completa de alguém, funciona como uma rara oportunidade para ler os que estão fora de catálogo. Ou se aproveitar para se conhecer e adentrar em suas narrativas. Além dessas possibilidades, no caso de Ernest Hemingway (1899-1961), vencedor do Nobel de Literatura em 1954, há um outro estimulante: o belíssimo trabalho de renovação da identidade visual dos seus livros que a Bertrand Brasil vem fazendo desde o ano passado. Todas as capas são de autoria do artista gráfico Angelo Allevato Bottino e bem merecem, em seu conjunto, um Prêmio Jabuti tanto individualmente quanto pelo seu conjunto. Se não bastasse, o processo de impressão tem a sofisticação de passar a sensação de que as capas são de veludo.

Oito volumes já foram lançados e mais sete estão previstos até o próximo ano. O primeiro deles, O Velho e o Mar, um dos livros mais impactantes e grandiosos de todos os tempos, saiu no final do ano passado. Depois, vieram Paris É uma Festa, Adeus às Armas, Por quem os Sinos Dobram, O Sol Também se Levanta, Do Outro Lado do Rio, Entre as Árvores, Ter e Não Ter e As Ilhas da Corrente. Para os próximos meses, estão previstos: O Verão Perigoso, Contos (volumes 1, 2 e 3), Verdade ao Amanhecer, A Quinta-Coluna e os ainda inéditos pela editora O Jardim do Éden, Tempo de Viver e Tempo de Morrer. No total, serão 18 volumes. Até o momento, somente pela editora, as obras do autor já venderam mais de 350 mil exemplares. 

Um dos pilares da literatura contemporânea mundial, Hemingway começou a escrever aos 18 anos para um jornal. Quando os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial, em 1914, ele se alistou como voluntário. Virou motorista de ambulância durante a campanha de seu país na Itália. Após ser ferido, recebeu uma condecoração do governo italiano. Ao voltar para os Estados Unidos, trabalhou como repórter para jornais americanos e canadenses. Retornou à Europa como correspondente e cobriu a Revolução Grega. Durante os anos 1920, tornou-se membro do grupo de expatriados americanos em Paris, o qual ele descreveu em seu primeiro livro, O sol também se levanta (1926). Ernest Hemingway ganhou o Nobel de Literatura em 1954 e se matou em 1961.

Confira as sinopses dos que já saíram e arrisque-se na estonteante obra de um dos autores mais influentes de todos os tempos:

1 – O velho e o mar (The Old Man and the Sea); Tradução de Fernando de Castro Ferro. 124 páginas

Captura de Tela 2014-08-17 às 13.21.06Um dos principais livros de sua carreira, é o título mais vendido do autor no Brasil. Agraciado com o Prêmio Pulitzer, em 1954, conta a história do octagenário pescador Santiago, que ainda precisa trabalhar para sobreviver. Depois de anos na profissão, havia 84 dias que não apanhava um único peixe. Por isso já diziam se tratar de um salão, ou seja, um azarento da pior espécie. Mas ele possui coragem, acredita em si mesmo, e parte sozinho para alto-mar, munido da certeza de que, desta vez, será bem-sucedido no seu trabalho. Esta é a história de um homem que convive com a solidão, com seus sonhos e pensamentos, sua luta pela sobrevivência e a inabalável confiança na vida. Com um enredo tenso que prende o leitor na ponta da linha, Hemingway escreveu uma das mais belas obras da literatura contemporânea. Uma história dotada de profunda mensagem de fé no homem e em sua capacidade de superar as limitações a que a vida o submete. O famoso crítico literário Cyril Connoly afirmou: “Leia o livro O velho e o mar imediatamente. Após alguns dias, leia-o novamente e irá verificar que nenhuma página desta bela obra-prima poderia ter sido escrita melhor ou de forma diferente”.

 

2 – Paris é uma festa (A Moveable Feast); Tradução de Ênio Silveira; 252 páginas

ernest-gÉ um dos principais livros de sua carreira. Segundo título mais vendido do autor no Brasil, foi publicado pela primeira vez em 1964. O livro revela um Hemingway diferente. Em Paris, aos 22 anos, ele lê, pela primeira vez, clássicos como Tolstói, Dostoievski e Stendhal. Convive com Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald, figuras polêmicas e encantadoras para o jovem autor. A cidade e esses “companheiros de viagem” deram-lhe nova dimensão do humano e maior sensibilidade para alcançar os seus dois objetivos primordiais na vida:  ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade consigo próprio.  Há, em Paris é uma festa, momentos de suave melancolia, alternados com outros de cortante, quase selvagem crueldade. O livro começou a ser escrito no outono de 1957, em Cuba, e foi finalizado na primavera de 1960. Após ter escrito Paris é uma festa, Hemingway recapturou, durante algum tempo, a felicidade perdida, o gosto da juventude, vividos naquela época. Depois disso colocou, então, na boca os dois canos da shotgun, sua carabina de caça predileta, e atirou, acabando assim com sua vida. 

 

3 – As ilhas da corrente (Islands in the Stream); Tradução de Milton Persson; 616 páginas

Captura de Tela 2014-08-17 às 13.47.51As ilhas da corrente não é apenas a melhor obra póstuma de Ernest Hemingway, mas um de seus grandes livros. Publicado pela primeira vez em 1970, nove anos após a morte do autor, narra as aventuras e as tragédias presentes em momentos cruciais da vida do pintor Thomas Hudson – um evidente alter ego hemingwayniano. Dividida em três partes, a obra pode ser vista tanto como uma reunião de novelas interligadas quanto como um romance fragmentado. De ambas as formas, é um trabalho que mostra um dos mais influentes escritores do século XX no ápice de sua maturidade literária. A primeira parte, “Bimini”, é ambientada em uma paradisíaca ilha do Caribe onde Hudson – divorciado e beberrão – leva uma vida idílica. “Cuba”, o segundo segmento, tem ares mais sombrios: o personagem é um homem atormentado que perde o filho em um acidente. Ao mesmo tempo, reencontra a primeira esposa e revive o final infeliz da grande história de amor de sua vida. A última parte, por sua vez, é um drama de guerra que contém elementos que lembram outras obras de Hemingway como Por quem os sinos dobram e O velho e o mar. Batizada de “No mar”, mostra Hudson como um caçador de submarinos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. As ilhas da corrente é um retrato brilhante da vida de um homem complexo e intrigante. Nestas páginas, Hemingway alcança o seu zênite de maturidade literária. “Uma história cheia de amor, de solidão, com o mesmo senso de humor e qualidade de tudo que escreveu.” (Mary Hemingway)

 

4 – Do outro lado do rio, entre as árvores (Across the River and into the Trees); Tradução de José Geraldo Vieira; 336 páginas

Captura de Tela 2014-08-17 às 13.49.12Iniciado nos primeiros meses de 1949, quando o autor passava suas férias na Itália, em Cortina d’Ampezzo, continuado em Finca Vigia, sua fazenda perto de Havana, concluído e revisto em Veneza, nos primeiros meses do ano seguinte, Do outro lado do rio, entre as árvores demonstra uma vez mais a precisão formal com que Ernest Hemingway escrevia: a linguagem direta, as pinceladas curtas, o todo descrito pela exatidão minuciosa do pormenor, as personagens reais, palpáveis quase. Na época de seu lançamento, os críticos americanos e ingleses receberam com fortes reservas o novo livro do já então famoso Hemingway, embora ele próprio o considerasse uma dos melhores que já escrevera. Em Do outro lado do rio, entre as árvores, o autor, pela primeira vez, explora de forma sentimental o amor, a morte e o choque com o mundo em que vive. Como protagonista da história, tem-se o coronel Richard Cantwell, da Infantaria dos Estados Unidos, que aos cinquenta anos se vê dominado por um tédio existencial e regressa ao norte da Itália numa espécie de busca do tempo. Depois dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, com famílias ainda chorando pelos mortos, e civis e militares caminhando rancorosos pelas ruas, os relatos de Cantwell impregnam-se de melancolia de quem viu como tudo aconteceu. Hemingway coloca muito de si próprio na figura do coronel, nesse retorno simbólico à juventude e à paixão por uma linda mulher mais jovem. Contudo, a comunhão de fundo com diversas e curiosas aproximações possíveis entre o protagonista e o romancista não se prende às coincidências factuais, e sim a um sentimento de exaustão em relação às guerras.

5 – Ter e não ter (To Have and Have Not); Tradução de Ênio Silveira; 280 páginas

Captura de Tela 2014-08-17 às 13.50.19É seu único romance ambientado em cenário americano e uma das poucas obras a indicar alguma preocupação com assuntos políticos. Escrito em 1944, o livro tem um ambiente tipicamente hemingwayano: à exceção da primeira parte, que se passa em Havana, as demais têm como pano de fundo regiões tantas vezes por ele percorridas em seu barco de pesca, o Pilar. O capitão Harry Morgan, personagem central da história, pode ser visto como um dos muitos alter egos do autor. Ele não era, porém, um homem que se deixasse envolver por questões ideológicas. Sempre às voltas com problemas financeiros, ele vivia da própria competência profissional, da audácia, da ânsia de liberdade. Era um solitário, um durão, um realista que enfrentava bons e maus momentos com a mesma tranquilidade, mas também com a certeza de que um homem solitário está sempre fadado a ter um fim trágico. Um homem severo, decidido a enfrentar qualquer perigo para cuidar da família, só confia em si mesmo e percebe, no momento decisivo, que o poder individual é sempre relativo. Mestre do diálogo, do realismo contundente, da prosa direta, sem gordura desnecessária, o grande escritor norte-americano põe o leitor em contato com aventureiros de muito (ou nenhum) caráter, revolucionários e sonhadores, assassinos, prostitutas, milionários alienados, pessoas humildes esmagadas pelas engrenagens do poder, envolvidas todas numa história vigorosa e dramática que jamais sairá de nossa memória.

 

6 – O sol também se levanta (The Sun Also Rises); Tradução de Berenice Xavier; 294 páginas

Captura de Tela 2014-08-17 às 13.51.19Uma obra vigorosa que retrata, em estilo direto e despojado, os conflitos e frustrações dos norte-americanos e ingleses que vivem em Paris após a Primeira Guerra Mundial. Numa linguagem acelerada, Hemingway cria personagens que logo se inserem no convívio do leitor, destacando-se, entre eles, como figuras marcadas e marcantes, Jake Barnes, jornalista emasculado por um ferimento de guerra, Lady Brett Ashley, jovem viúva inglesa por quem ele estava apaixonado, Robert Cohn, o escritor em busca de seu caminho, Mike Campbell, o playboy inglês que também fazia a corte a Lady Brett, e Pedro Romero, o toureiro espanhol com quem ela tem um caso. Para O Sol Também se Levanta Hemingway elaborou tipos humanos complexos, representando assim uma geração contaminada pela ironia e pelo vazio diante da vida, com seus valores morais destruídos pela guerra e irremediavelmente perdidos. Temas como a solidão e a morte, os preferidos do escritor, são explorados de forma brilhante. Com este romance, o autor reafirmou sua qualidade como escritor e alargou seu grupo de admiradores. Aos temas trabalhados por Scott Fitzgerald em Este lado do paraíso, Hemingway acrescentou o gosto pela realidade física em todas as suas manifestações, da energia à brutalidade. Escrito originalmente em 1926 e publicado em 1927, este é considerado por muitos como sua obra mais refinada em termos de técnica literária.

 


7 – Adeus às armas 
(A Farewell to Arms); Tradução de Monteiro Lobato; 406 páginas

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Publicada em 1929, a obra é o segundo romance do escritor norte-americano Ernest Hemingway. O livro tem como tema central a paixão de Frederic Henry – que se alista no exército italiano como motorista de ambulância – pela enfermeira Catherine Barkley. Neste romance autobiográfico, a história de amor tem um final feliz, ao contrário da vivida pelo autor. Os protagonistas acreditam que podem se isolar em seu amor, simplesmente afastando-se da guerra. Em 1918, ferido em combate, Hemingway é internado em um hospital, em Milão, onde conhece a enfermeira Agnes von Kurowsky,  por quem se apaixona. Porém, ela não aceita casar-se com o escritor, deixando-o profundamente desiludido. Narrado em primeira pessoa, Adeus às armas revela-se uma obra como poucas. Hemingway conduz a narrativa de forma dinâmica, ressaltando o teor dramático da trama e proporcionando ao leitor algumas das páginas mais românticas e comoventes da literatura ocidental.

 

8 – Por quem os sinos dobram (For Whom the Bells Tolls); Tradução de Luís Peazê; 672 páginas

Captura de Tela 2014-08-17 às 13.53.34Nesta comovente história, o pano de fundo é a Guerra Civil Espanhola, narra três dias na vida de um americano que se ligara à causa da legalidade na Espanha. O autor conseguiu que seus leitores sentissem que o ocorrido no país ibérico, em 1937, era apenas um aspecto da crise do mundo moderno. A trama gira em torno de Robert Jordan, americano integrante das Brigadas Internacionais, que luta ao lado do governo democrático e republicano, recebendo a missão de dinamitar uma ponte. Com ele está um grupo de guerrilheiros/ciganos, integrado por Pilar, mulher com extraordinária força de vontade, o perigoso Pablo e a bela Maria. A relação entre Robert e Maria acabou por se tornar uma das mais inesquecíveis histórias de amor da literatura moderna. A obra foi eternizada no cinema, dirigida por Sam Wood, com Gary Cooper e Ingrid Bergman nos papéis principais. O autor começou a escrever o livro em 1939, em Cuba, onde morava. Publicado em 1940, foi sucesso de crítica e público. Por razões políticas, no entanto, deixou de receber o Pullitzer, apesar de eleito por unanimidade pelos jurados. “Hemingway descreve o drama da guerra civil, a mais deplorável de todas. A cena da matança dos fascistas, organizada por Pablo e, no romance, contada por sua mulher Pilar, é das coisas mais arrepiantes que se escreveram. Veio a retaliação. Os fascistas souberam vingar-se dos horrores que, no começo, os comunistas espanhóis perpetraram.

 


Comentários

Uma resposta para “Hemingway ganha nova (e bela) roupagem”

  1. Avatar de Jorge Fernando dos Santos
    Jorge Fernando dos Santos

    Para informação do colunista, O Jardim do Éden, Tempo de Viver e Tempo de Morrer não são inéditos no Brasil.

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