Quem tem medo da crítica literária?

A crítica literária é um caso à parte no jornalismo cultural. É certamente a mais difícil de fazer – porque demanda mais tempo (do que, por exemplo, a crítica musical, cinematográfica, artística ou teatral), mais repertório e possivelmente mais coragem intelectual – e também a que envolve mais chances de incorrer numa injustiça. Escrever um livro não é tarefa de alguns meses, mas algo que toma pelo menos um ano na vida do autor; um ano de esforço contínuo, de avanços e recuos, de dúvidas excruciantes e momentos de júbilo. Uma crítica mal intencionada ou leviana pode jogar todo esse trabalho fora. Isso, se considerarmos que a crítica tem realmente esse poder.

Tem? É uma das perguntas que faremos no primeiro encontro da Vila Brasileiros, projeto da Livraria da Vila e da Revista Brasileiros que se propõe a criar um espaço para discutir a literatura. Fato é que, se por um lado a crítica literária mais aprofundada vem perdendo espaço na mídia impressa – o fim do Sabático e da revista Bravo são dois exemplos – por outro, há uma infinidade de blogs e sites e revistas eletrônicas que tentam dar conta desse espaço, além de revistas fora do mainstream, como a Cândido e a Rascunho, entre outras.

Isso traz um novo problema: como separar o joio do trigo? Como saber se um crítico ou comentarista de um veículo sem tradição ou não institucionalizado, sem uma curadoria ou edição reconhecida é confiável? E de que tipo de crítica estamos falando? Talvez pudéssemos dividi-la em duas correntes, mais ou menos bem definidas: uma está ligada à academia, traz um tratamento mais técnico, escora-se na autoridade de estudos e títulos da universidade, é em geral menos acessível ao leitor médio; outra é a crítica impressionista, feita por pessoas de cultura e discernimento, com base em seu gosto pessoal, em geral associada ao jornalismo, tanto impresso quanto internético.

Em ambos os casos há bons e maus críticos. Em ambos os casos há críticos conservadores e outros mais progressistas. O que nos leva a outra questão – e essa crucial: o que seria uma boa crítica e o que seria uma crítica ruim? Entre os escritores de literatura contemporânea há uma certa desconfiança quanto aos críticos mais velhos, que fizeram suas carreiras antes da internet. Para muitos, eles não leem os novos e falam de forma muito genérica, com certo desprezo pela produção atual. Alguns críticos mais rigorosos, por outro lado, defendem que pouco de bom tem sido lançado. Mas quais são os argumentos de lado a lado?

Parece haver uma crença de que a crítica negativa e maldosa atrai mais leitores. Até que ponto isso é verdade? Um crítico pode não gostar de um livro e ainda assim, num esforço de compreender suas intenções estéticas e de conteúdo, e, no caso, de entender que os objetivos do autor foram plenamente atingidos, fazer um elogio? E o contrário?

E as famosas acusações de panelinha? Têm crédito? Existiria um excesso de camaradagem entre certos escritores, editores e jornalistas? E em consequência disso, autores bons são marginalizados ou ignorados? Como dar conta de toda a produção literária brasileira e mundial, que parece crescer exponencialmente com as facilidades tecnológicas de publicação e autopublicação?

Há ainda muitas questões a discutir. O debate está aberto. Quem estiver em São Paulo está convidado. Quem não estiver, poderá depois acompanhar o que foi dito aqui, no site da Brasileiros.
 
Serviço:
Vila Brasileiros
Livraria da Vila – São Paulo
Onde: R. Fradique Coutinho, 915
Das 19h30 às 21h30
Entrada gratuita


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