Se tudo der certo, teremos um novo romance de Daniel Galera em algum momento do ano que vem. Foi o que o autor paulista, radicado em Porto Alegre, adiantou durante participação, ao lado dos autores Ronaldo Bressane e Joca Reiners Terron, em uma mesa no Centro Cultural Sesc Paraty intitulada Territórios Literários.
Sobre a trama do sucessor de Barba Ensopada de Sangue (Companhia das Letras), alguns pequenos detalhes: a história se passa em Porto Alegre nos dias de hoje (2013, 2014…) e conta com três personagens centrais que eram próximos na virada do milênio e se reencontram anos depois, após tomarem rumos muito diferentes na vida.
Conversamos rapidamente com o autor sobre trabalho, leituras e videogame (Galera escreveu um longo ensaio sobre a narrativa do jogo Prince of Persia). Leia um trecho:
Você está em um período entre livros. Atrapalha ou ajuda a trazer ideias participar de eventos literários?
Fazer esse tipo de evento na época que a gente tá se dedicando a escrever um livro atrapalha um pouco, sim, mas é tudo uma questão de medida. Esse ano, a minha prioridade é trabalhar no romance novo, então eu diminuí muito a participação em debates e viagens que tenham a ver com literatura. Mas eu acho que cortar totalmente também não é o caso porque eventualmente é algo que eu gosto de fazer e divulgar a obra é parte do trabalho do autor. O autor só tem que cuidar para não deixar essa parte da divulgação se impor sobre o tempo e a energia necessária para escrever. Sem os livros em si, todo o resto deixa de existir.
Rola muita pressão? Já te fizeram várias perguntas sobre o livro novo.
Rola, mas é natural. Eu também, como leitor, fico querendo saber no que os escritores que eu gosto estão trabalhando, então me sinto bem quando fazem essas perguntas porque significa que as pessoas leram os livros anteriores e gostaram. Mas, às vezes, eu não gosto muito de falar porque não tem como mesmo, porque o projeto tá em uma fase muito inicial e pouco concreta, ele pode mudar e fica difícil colocar em algumas palavras qual é a história, não é por questão de má vontade. E às vezes, eu também não gosto muito de falar por uma sensação um pouco superticiosa de que se a gente compartilhar demais o trabalho pode depois não conseguir escrever o que desejava ou pode ir até o fim e não ficar tão bom quanto acredita. Então, tem um receito que é até um pouco irracional, mas que existe também. Mas agora, quando estou em um estágio como o de agora, que o livro já está andando e eu já escrevi quase um terço dele, é mais fácil de falar, não me importo de compartilhar um pouco e satisfazer um pouco a curiosidade dos dos leitores porque eu entendo e fico lisonjeado com essa curiosidade.
Após a mesa, você recebeu um monte de livros de jovens autores, você gosta disso?
Gosto, adoro receber. E na medida do possível, leio também, às vezes leio pelo menos uma parte para ter uma noção do trabalho do autor. Eu me lembro muito bem da época que eu fazia os meus livros de forma independente, todos os meus esforços para tentar fazer esses livros circularem e serem lidos. Então, agora que estou em outro estágio da minha carreira, eu não só tenho uma curiosidade real pelo que as outras pessoas estão produzindo, mas gosto de dar essa atenção porque Às vezes, se eu gostar de um livro desses e indicar para algum amigo meu que é editor, pode ajudar, isso pode acontecer.
O que você anda lendo?
Eu tô lendo mais não-ficção do que ficção, ultimamente. Tenho lido alguns livros de filosofia e alguns estudos que tem a ver com temas sobre antropoceno, sobre pós-humanismo, são os temas que tem me interessado recentemente e eles tem um pouco a ver com coisas do livro que estou escrevendo – e também alguns autores de filosofia de uma corrente nova chamada realismo especulativo, algumas coisas de ciência que me interessa . E eu intercalo isso com alguma coisa de literatura. Recentemente, eu li o Restinga do Miguel de Castilho, gostei bastante. Eu li alguns originais que me mandaram, entre eles um livro novo do Edyr Augusto Proença, um escritor paraense que vai ser publicado em breve – o livro dele se chama Psica e eu gostei muito, inclusive acabei escrevendo a orelha dele. É um livro bem legal.
E os jogos?
Tô jogando The Witcher 3, que tá acabando com a minha vida, é muito perigoso. Eu tento jogar mesmo só nos momentos que realmente sobram.
Não atrapalha muito no trabalho?
Eu tô conseguindo controlar, eu acabo jogando 20% a mais do que eu deveria. Não chega a me atrapalhar, como em momentos anteriores da minha vida em que eu acabava mergulhando mais a fundo. Mas tenho jogado Witcher e no computador eu joguei o Endless Legend, um jogo de simulação tipo Civilization, que agora eu já parei, mas durou algumas semanas. Jogo bom sempre tem, é meio desesperador.
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