É possível um romance nos remeter a mesma sensação de um grande título no futebol? Ou a dor de uma derrota? A vida, muita as vezes, imita a arte, inclusive nos gramados. Porém, no campo da literatura, muitas vezes o oposto não é recíproco. O Brasil, País do futebol, não é necessariamente o país da literatura ficcional futebolística.
Para debater esse assunto muito oportuno, há menos de três semana para a Copa do Mundo, a Brasileiros promoveu, em parceria com a Livraria da Vila, mais um capítulo da série de eventos Vila Brasileiros, dessa vez tendo como tema “Literatura e Futebol”.
Temos biografias sensacionais de jogadores, crônicas memoráveis de gênios da palavra do nível de Nelson Rodrigues e José Lins Rego, ensaios, teses e livros interessantes dedicados ao tema, porém, no campo da literatura ficcional, do romance, a bola ainda rola quadrada.
Fazendo a triangulação na conversa, um time de craques, Marcelo Backes, escritor, crítico, autor do recém-lançado O Último Minuto, livro cujo personagem central é o técnico de um time carioca, André Sant’Anna, autor de O Paraíso é Bem Bacana, romance que conta com as jogadas do garoto Mané, promessa do futebol alemão. Distribuindo o jogo, na mediação, Daniel Benevides, editor do caderno de literatura da revista Brasileiros.
Marcelo Backes, fanático pelo Internacional de Porto Alegre e também um boleiro de final de semana, considera que, pessoalmente, o futebol é sim um tema recorrente. “Nasci no interior do Rio Grande do Sul em uma cidade onde tudo o que uma criança podia fazer era ler, comer, dormir e jogar bola, cresci assim… Sempre sofri muito por futebol e acho que só no sofrimento que a gente para pra pensar, refletir. Eu trato de coisas que me machucam, me tocam, entre elas o futebol. Quando está tudo bem, simplesmente tocamos nossas vidas”, analisou.
Atípico, André Santana nasceu em Belo Horizonte, mas se considera carioca por escolha, por paixão, graças ao Fluminense, time que tem ligação familiar desde muito tempo. Na opinião do tricolor, um dos principais motivos para a escassez de obras literárias que tratam o universo do futebol é o fato de ainda existir um certo preconceito entre os “intelectuais”. “Acho que é uma coisa antiga, tem aquela história da época da Ditadura Militar, quando o governo tomou a seleção para fazer propaganda e a ala intelectual chamava o esporte de ‘ópio do povo’. É uma lacuna que ainda existe, mas menor”. Backes concordou, “parece que quem gosta de literatura não pode gostar de futebol. Eu frequento o meio acadêmico e as pessoas se chocam quando eu falo que sou fanático. Quando digo que jogo então”, brincou o escritor.
O palmeirense e entusiasta do Arsenal, da Inglaterra, Daniel Benevides parou a bola, ergueu a cabeça e resolveu virar o jogo. “Mas e as crônicas de antigamente, principalmente as de autoria de Nelson Rodrigues, elas podem sim ser consideradas obras literárias!”, ponderou. O colorado Marcelo concordou que sim, existem elementos, e acrescentou o que pra ele ainda falta para que tenhamos um grande romance rodeado pelo futebol no Brasil. “O romance de hoje não é mais aquela narrativa ingênua e pura do século XIX. Acho que tem muita coisa que um escritor não sabe a respeito dos bastidores do futebol, do vestiário, da concentração, por isso não é tão fácil conceber uma obra sobre o assunto. As vezes também penso que o futebol é muito realista, tem coisas que não funcionam na ficção”.
Já nos acréscimos os escritores comentaram a Copa do Mundo no Brasil, concordaram com a afirmação de que a Copa não vai influenciar diretamente o rumo do País, como mudar a cabeça do povo em relação as eleições, por exemplo, e deram, unânimes, seus palpites para campeão: Brasil, é claro!
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