Grupo da Comissão da Verdade investigará Operação Condor

Generais da ditadura militar argentina

Um grupo de trabalho, coordenado pela Comissão Nacional da Verdade, vai investigar as atividades da Operação Condor, que oficialmente começou a vigorar em 1975 em plena ditadura militar. A operação foi uma aliança político-militar entre os governos autoritários do Brasil, da Argentina, do Chile, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai.

Segundo o apurado até o momento, com dados dos atuais governos dos países envolvidos, calcula-se que, apenas nos anos 1970, o número de mortos e “desaparecidos” políticos tenha chegado a aproximadamente 290 no Uruguai, 360 no Brasil, 2 mil no Paraguai, 3,1 mil no Chile e 30 mil na Argentina – a ditadura latino-americana que mais vítimas deixou em seu caminho. Estimativas menos conservadoras estimam que a Operação Condor tenha chegado ao saldo total de 50 mil mortos, 30 mil desaparecidos e 400 mil presos.

O grupo de trabalho será presidido pela advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, que faz parte da Comissão Nacional da Verdade, a professora de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Heloisa Maria Murgel Starling, o jornalista Luiz Cláudio Cunha e Paula Rodrigues Ballesteros – assessora da Comissão Nacional da Verdade. Todos exercerão as atividades sem remuneração por “prestação de serviço relevante” ao país.

A determinação do grupo é “esclarecer os fatos, as circunstâncias e os autores dos casos de graves violações, torturas, muitos desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres” durante a Operação Condor, diz o texto que estabelece a atuação dos integrantes. Não há fixação de prazos nem períodos para a conclusão dos trabalhos.

A resolução que define a criação do grupo de trabalho está publicada no Diário Oficial da União de hoje (25).

No último dia 17, a Comissão Nacional da Verdade formalizou a decisão de criar um grupo de trabalho destinado a investigar a Operação Condor. Na ocasião, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, que atuou na investigação sobre as ações da operação, lembrou que houve uma reunião secreta em Buenos Aires, na Argentina, em 1974, para definir a estratégia político-militar.

Para integrantes da Comissão Nacional da Verdade, o grupo de trabalho poderá apurar alguns episódios polêmicos da história nacional, como as mortes dos ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek, ambos em 1976, durante a vigência da Operação Condor.

Goulart governou o Brasil de 1961 até ser deposto pelo golpe militar de 1964. Ele morreu em dezembro de 1976, na Argentina, oficialmente de ataque cardíaco. A versão é contestada por parentes que acreditam em envenenamento por agentes da Operação Condor.

No caso de Kubitschek, a comissão recebeu da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Minas Gerais (OAB-MG) um relatório contestando a versão sobre a morte dele em consequência de um acidente de carro. “Vamos analisar toda a documentação e investigar o que foi relatado”, disse Cláudio Fonteles, integrante da Comissão Nacional da Verdade, no último dia 17.

Agência Brasil


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