Comissão do Senado discute Venezuela com opositores e apoiadores de Maduro

O governo da Venezuela foi denunciado nesta quinta-feira (7) por violação de direitos humanos por mulheres de políticos oposicionistas presos, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado brasileiro, que discutiu a situação política naquele país, ente as quais Lilian Tintori, segundo a qual há 89 políticos presos pelo regime chefiado pelo presidente Nicolás Maduro.

“Estamos à beira de uma crise humanitária. Meu esposo está preso injustamente há um ano e três meses por denunciar o regime de Maduro que tem todas as características de uma ditadura. Hoje, há 89 presos políticos na Venezuela. São inocentes. Pedimos ajuda ao Brasil para levantar a bandeira da democracia”, apelou Lilian, mulher do líder oposicionista Leopoldo López.

A comissão também convidou Tarek Wiliam Saab, presidente do Conselho Moral do Poder Cidadão e a coordenador da Defensoria Del Pueblo da Venezuela, que, ao contrário das mulheres dos presos, defende o Estado venezuelano. Nesta quarta-feira (6), ele participou de um debate na Faculdade de Direito do Largo São Francisco da USP, em São Paulo, 0nde refutou as acusações delas. “A Venezuela é um Estado garantidor dos direitos humanos. A Constituição de 1999 estabeleceu essas garantias e o modelo é reconhecido no mundo inteiro. No passado, o país viveu sob uma política de institucionalização do extermínio, da perseguição, do desaparecimento forçado, da violação sistemática dos direitos humanos. Hoje é impossível um chefe de Estado na Venezuela determinar um assassinato ou uma prisão arbitrária. Não é política de Estado”, disse em entrevista à Carta Capital.

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado ouviu o depoimento de Mitzy Capriles, mulher de Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, que foi preso em fevereiro deste ano, acusado de conspirar contra o governo de Maduro, e Rosa Orozco, que teve a filha de 23 anos assassinada com um tiro no rosto ao participar de uma manifestação contra o governo em fevereiro do ano passado.

“Estudantes foram assassinados com tiros na cabeça por participarem de manifestação e por serem contrários ao governo. Matam a quem tem opinião diferente. Não vivemos em uma democracia. Não quero que outras mães passem por isso e que matem mais jovens. Temos medo que nossos filhos sejam mortos”, disse Rosa.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que o Brasil tem sido omisso com relação à situação política na Venezuela. “O Brasil deveria estar exercendo uma liderança natural nas questões da nossa região no que diz respeito à democracia e aos direitos humanos. A escalada autoritária na Venezuela é de conhecimento de todos”, disse o senador.

Segundo o senador Lindberg Farias (PT-RJ), o Brasil está tomando posição sobre a crise na Venezuela em conjunto com todos os países da América do Sul. “O centro de toda essa discussão é forçar a negociação entre situação e oposição na Venezuela. Há posições extremadas dos dois lados. O governo brasileiro tem um papel de conciliação”, disse Farias.

O petista informou que hoje à tarde o diretor do Departamento da América do Sul II do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Clemente Baena Soares, vai receber a delegação venezuelana no Itamaraty.

Após a audiência pública, a delegação venezuelana foi recebida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “Fizemos um apelo para que o governo [brasileiro] tivesse um olhar diferente com que acontece naquele país amigo. Quando falamos de governo, estamos incluindo o Legislativo, que está fazendo sua parte. Quem precisa mudar a rota e fazer a sua parte também é o Poder Executivo. Eu espero sinceramente, em nome do Congresso Nacional, que isso aconteça”, disse Renan.


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