Especial: francesa relata desespero em terremoto no Equador

Laura Chataigner, francesa que faz intercâmbio em Quito, sentiu uma sacudida no último sábado (16). Foto: Arquivo pessoal
Laura Chataigner, francesa que faz intercâmbio em Quito, sentiu apenas uma sacudida no último sábado (16). Foto: Arquivo pessoal

No último sábado (16), um tremor de 7,8 graus na escala Richter sacudiu o Equador causando uma tragédia como não ocorria no país havia 67 anos. O resultado, até o momento, remonta a cenas de horror: mais de 400 mortos, 2.000 feridos e mais de 230 desaparecidos. Ademais, as três cidades mais atingidas pelo forte sismo foram quase reduzidas a pó, como informa a imprensa local. Em Portoviejo, Manta e Pedernales são poucas as construções que ficaram de pé, a maioria entrou em colapso.

A francesa Laura Chataigner, 21 anos, mora e estuda em Quito desde dezembro de 2015, faz intercâmbio em Ciências Sociais. Quito fica a cerca de 200 km da região do epicentro do tremor, ainda assim, o chacoalhar da terra também foi sentido por lá. Leia, a seguir, o relato de Laura escrito especialmente à Brasileiros:

“No sábado, dia 16 de abril, às 18h58 (21h58, no horário de São Paulo), eu estava no último andar da casa em que moro em um bairro no norte de Quito. Sentada em meu sofá, assistia um filme, quando, de repente, os muros e o chão da casa começaram a balançar. Foi suave, como se eu estivesse em um pequeno barco e uma onda fizesse a embarcação a oscilar na água. Quando sentimos um tremor pela primeira vez, sobretudo se não for muito forte, não imaginamos ser isso. Não entrei em pânico, não pensei em descer para o andar inferior da casa para me proteger.

Ao contrário, acabei indo para a varanda a fim de observar a cidade. Foi aí que a ficha caiu. Vi grandes torres dos bairros comerciais balançando, indo para a esquerda e para a direita, lembrando as luzes de um navio que se aproxima do porto. Mas não era uma beleza poética, era só o começo de uma terrível tragédia.

Na sequência, saí correndo para a rua para tentar conseguir informação. Vizinhos estavam no meio da rua, uns tentando tranquilizar os outros. Alguns idosos passavam mal, estavam em choque, uns desmaiaram, embora nada mais grave tivesse ocorrido na redondeza. Portanto, nem eu nem os que me rodeavam sabíamos que um terrível terremoto praticamente dizimara áreas do Sudoeste do país até Guayaquil, na costa pacífica. O pior estava por vir.

Na segunda-feira (18), TVs, rádios e internet noticiavam que os mortos já somavam 413 e que os feridos ultrapassavam 2.000 pessoas.

O horror se materializou em fotos espalhadas pela internet. Vi o corpo de uma mulher preso aos escombros debaixo de um elevador em um prédio comercial. Ela estava totalmente banhada por uma poça de sangue e pedaços de vidro. O que nos alivia é ter notícias de solidariedade. Os equatorianos estão se ajudando como irmãos. Hospitais estão doando materiais, médicos residentes estão se voluntariando para ajudar as diferentes regiões mais afetadas. Por toda a capital, há centros de coleta de alimentos e roupas.

Todos estão muito afetados e o sentimento de ajuda é mútuo. Todos querem ajudar de alguma maneira, oferecendo transporte, doando dinheiro, tudo. Muitos, aqui, avaliam a tragédia simplesmente como vontade de Deus, outros apenas relatam seus medos. De qualquer forma, reclamar, na minha opinião, seria como negar o sofrimento daquelas cujas vidas mudaram da noite para o dia.”


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