“EUA ainda querem derrubar governo de Cuba”, diz ex-ministro cubano

Obama e Raúl apertam as mãos nesta sexta-feira, no Panamá - Foto: Reprodução/ Cubadebate
Obama e Raúl apertam as mãos no Panamá – Foto: Reprodução/ Cubadebate

O presidente da Associação de Cubanos Residentes no Brasil, Tirso Sáenz, acredita que o governo dos Estados Unidos continua interessado em derrubar o governo de Cuba, representado por Raúl Castro desde 2006, quando seu irmão, o artífice da Revolução Cubana, Fidel Castro, deixou o poder por problemas de saúde. Para Saénz, que também foi vice ministro das Indústrias de Cuba (1961-1965), quando o argentino Ernesto Che Guevara comandou a pasta, e escreveu o livro O Ministro Che Guevara: testemunho de um colaborador (Garamond, 2004)os EUA alteraram apenas o método para deslegitimar o governo cubano.

“Quando Raúl Castro e Barack Obama anunciaram a retomada de diálogos, em dezembro, não houve reconhecimento por parte dos Estados Unidos de que “o bloqueio econômico é cruel”, mas sim, a permanência de uma estratégia ainda voltada para mudar o governo de Cuba. Quando Obama fez o anúncio, ele fala claramente em ‘estratégia fracassada’. Ou seja, é apenas um método distinto para derrubar o governo”, disse Saénz durante o debate intitulado América Latina e Estados Unidos: Novos Desafios, na biblioteca Brasiliana, na Universidade de São Paulo (USP), nesta terça-feira (30). “O campo de batalha agora se restringiu apenas ao campo ideológico”, completou.

Para Sáenz, o bloqueio econômico norte-americano à ilha provocou, além de graves problemas de distribuição de alimentos, uma enorme defasagem tecnológica. “Se os norte-americanos quiseram matar os cubanos de fome, não conseguiram, mas chegaram perto. O sofrimento do povo cubano com relação a isso é enorme, e todos sabem que não é culpa do governo de Cuba. Em cifras econômicas, desde os anos 1950, foram mais de US$ 1000 bilhões. A política norte-americana de continuar causando fome e derrubar o governo continua até hoje. Mas, além disso, veja a questão da internet em Cuba, por exemplo: não é um interesse do governo que ela seja precária, mas simplesmente porque a ilha está atrasadíssima em questões tecnológicas”, explicou.

As eleições presidenciais dos Estados Unidos, no ano que vem, serão significativas para o futuro de Cuba, segundo Sáenz. Curiosamente, dois descendentes de cubanos estão na disputa ao cargo máximo do país: os republicanos Ted Cruz e Marco Rubio, hoje senadores. “Não podemos deixar o american way of life invadir Cuba como aconteceu nos anos 1950. Temos que manter esse processo revolucionário que trouxe benefícios do ponto de vista cultural, de educação, de saúde, de dignidade e que, acima de tudo, simbolizou uma bandeira para a América Latina”, finalizou.

Cuba e Estados Unidos anunciaram uma reaproximação diplomática em dezembro do ano passado, mediada, sobretudo, pelo Papa Francisco, que visitará Cuba em setembro. Na ocasião, o presidente norte-americano, Barack Obama, classificou como “fracassada” a estratégia de manter-se distante da ilha caribenha. Em maio, no Panamá, Raúl Castro e Obama se encontraram durante a reunião da cúpula da Organização dos Estados Americanos, num evento histórico, contando que líderes dos dois países não se reuniam desde os anos 1950. Entre as mudanças, estão a abertura de voos semanais de cidades dos EUA para Havana, capital cubana, e o fim de algumas restrições para visitas de cidadãos norte-americanos à ilha. 


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