EUA e Irã anunciam acordo para limitar bomba nuclear

Foto: U.S. Department of State
Foto: U.S. Department of State

Após mais de 30 anos de tensões entre os Estados Unidos e o Irã, um grupo formado por seis países e liderado por Washington anunciou na manhã desta terça-feira (14), em Viena, na Áustria, um acordo nuclear para limitar a capacidade de enriquecimento de urânio de Teerã, que sofrerá sanções financeiras e outras penalidades caso continue mantendo bases nucleares em seu território. O jornal espanhol El País classificou a decisão como “histórica para o Oriente” e o estadunidense New York Times chamou-o de “acordo histórico”.

O Congresso dos Estados Unidos tem 60 dias para revisar o documento apresentado nesta terça-feira, na Europa, com sua aprovação ou reprovação. Segundo o New York Times, como a maioria do parlamento estadunidense é republicana, o texto deve ser reprovado, mas Obama já anunciou que vai vetar a decisão, usando a sua prerrogativa de veto. 

O grupo foi formado, além de EUA e o próprio Irã, por Grã-Bretanha, China, França, Alemanha, Rússia e a União Europeia.

Ainda nesta manhã, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, discursou em canal aberto ao seu país em um dos corredores da Casa Branca, argumentando que o acordo era o melhor caminho para frear o ímpeto armamentista do Irã e que seus sucessores estarão mais fortes na tensão de forças com os países do Oriente Médio. “Nenhum acordo significa uma maior chance de guerra na região, mas freamos a expansão das armas nucleares no Oriente próximo. Graças a esse acordo, o Irã modificará os reatores para não produzir urânio enriquecido pelos próximos 15 anos”, disse ele, antes de completar com a frase mais forte de sua fala: “É um acodo que não se baseia na confiança, mas na verificação”, se referindo às possíveis inspeções regulares que Teerã terá de aceitar.

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, usou sua conta no Twitter para comemorar o acordo, que classificou como “não perfeito, mas perdedores, pois todos ganharam”. “[O acordo] mostra que o engajamento funciona. Com essa crise desnecessária resolvida, novos horizontes surgem com foco em desafios comuns. […] Após 23 meses de negociações, chegamos a um novo capítulo na história. […] Hoje inicia-se um novo capítulo para trabalharmos para o crescimento e desenvolvimento do nosso querido Irã. Um dia para a nossa juventude sonhar novamente com um futuro mais brilhante”, escreveu.

O New York Times também repercutiu as críticas ao acordo, principalmente do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que chamou a negociação com o Irã de “erro de proporções históricas” que criaria uma “superpotência nuclear terrorista”. A Arábia Saudita também se mostrou contrária ao acordo, de forma que o presidente norte-americano precisará convencer as duas nações das benesses que a decisão trará para a região.

O El País, um dos veículos de comunicação mais importantes da Europa, afirma nesta terça que o acordo é equiparável ao de Camp David, em 1978, que selou a paz entre Israel e Egito, e elogiou Obama por colocar fim aos conflitos provenientes da Guerra Fria, assim como fez recentemente com Cuba. Os Estados Unidos haviam rompido relações diplomáticas com o Irã em 1979, quando um grupo de estudantes ocupou a embaixada norte-americana em Teerã. O ex-presidente estadunidense, George W. Bush, colocou o Irã no chamado “eixo do mal” e era possível encontrar discursos nos Estados Unidos se referindo ao Irã como o “grande Satã”.

O primeiro resultado palpável do acordo será a restrição do Irã em acessar a bomba nuclear pelos próximos dez anos – acordo que, se descumprido, gerará sanções econômicas graves ao país. A ONU se responsabiliza por fiscalizar os reatores regularmente. Em Viena, os secretários de Estado dos EUA e do Irã, John Kerry e Javad Zarif, concordaram que o acordo também coloca os dois países juntos no combate ao Estado Islâmico, que age na Síria e no Iraque. “A ameaça que afrontamos, e falo no plural porque ninguém está a salvo, se encarna nos encapuzados que estão devastando o berço da nossa civilização”, afirmou Zarif.


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