Em caravana pela América do Sul, familiares dos 43 estudantes desaparecidos em Guerrero, província ao noroeste do México, desde setembro de 2014, estão de passagem por São Paulo. O grupo viaja com o apoio de diversos movimentos sociais para divulgar o brutal acontecido ainda hoje sem conclusão investigativa. Levam consigo a bandeira: “Vivos os levaram, vivos os queremos”.
Em debate com o grupo Mães de Maio, mães e pais dos estudantes mexicanos falaram na Quadra dos Bancários, no centro da capital paulistana, nesta terça-feira (2). Antes disso, participaram de uma coletiva de imprensa.
Para Débora, líder do movimento brasileiro nascido apos os crimes de maio de 2006, nos quais se estima a morte de 450 jovens, assassinados em represália da policia a ataques do PCC, a luta das Mães de Maio “nunca teve fronteiras”. “Vamos fazer uma carta de repúdio ao governo do México. Exigimos uma resposta. Somos a América Latina desmilitarizada. Não podemos ter medo de bala, desse açoite, do Estado terrorista, vamos enfrentá-lo. Para nós, tudo é perto quando se tem coragem”.
Hilda Vargas, mãe do estudante Jorge Antonio Tizapa Legideño, diz que o governo mexicano não tem ajudado na busca pelos seus filhos. “Desde 26 de setembro estamos atrás dos nossos filhos. Eles foram atacados pelos paramilitares em conluio com a Policia Militar. O governo só nos diz que estão mortos, sem provar. Peritos argentinos desmentem isso e, como pais, não aceitamos essa versão. Já se passaram oito meses e estamos muito preocupados com as condições nas quais nossos filhos devem estar. Viemos aqui para denunciar essa situação. Ao escutar as Mães de Maio, vemos que temos de unificar as vozes. Não podemos deixar que desrespeitem os direitos dos indígenas e pobres que somos. Pedimos o apoio de vocês para dizer que faltam 43. Vamos continuar até encontrar nossos filhos”.
Além de Hilda, outros dois familiares e um estudante que sobreviveu ao ataque participam da caravana, que já passou pela Argentina e pelo Uruguai. Todos contestam a versão oficial do governo e reivindicam que os jovens sejam encontrados – com vida. “Não é porque somos cabeça-dura que insistimos em encontrar nossos filhos vivos. É porque não há provas de que foram mortos e o governo não tem colaborado com a gente, e nem com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Só tem atrapalhado e omitido informações”, disse Mario Cezar, pai de Cesar Manuel.
“É um orgulho estar com vocês que lutam por justiça. Viemos ao Brasil para articular forças e nos unificar. Não é possível que continuemos assim. Ao escutar essas mães e pais, vemos como estão globalizados os crimes de Estado e as desaparições forçadas. Todos somos explorados por esse sistema”, disse Francisco Sánchez Nava, estudante sobrevivente.
Histórico
No dia 26 de setembro de 2014, alunos deixaram a Escola Normal Rural de Ayotzinapa, em cinco ônibus, em direção à cidade de Iguala, para arrecadar dinheiro para uma marcha contra o esquecimento da matança dos estudantes, em 1968, conhecida como Massacre de Tlatelolco. Na noite do mesmo dia, a polícia de Iguala e grupos paramilitares reprimiram cruelmente os estudantes e atacaram três dos cinco ônibus nos quais viajavam. Os policiais dispararam, inclusive, contra um ônibus que transportava uma equipe de futebol, com saldo final de seis mortos, dezenas de feridos e 43 normalistas desaparecidos. O caso chocou os mexicanos e chamou a atenção da comunidade internacional.
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