Nas últimas duas semanas, desde o massacre que culminou na morte de 9 pessoas em Charleston, sete igrejas da comunidade negra dos Estados Unidos foram incendiadas em cinco Estados diferentes do sul do país. A última foi a Igreja Episcopal Africana Monte Sião, no Condado de Williamsburg, na Carolina do Sul, engolida pelas chamas na noite desta terça-feira (30). As causas ainda são incertas, mas tudo indica que parece ser mais um crime racista de ódio contra a comunidade negra norte-americana. As informações são do site Think Progress.
A primeira igreja incendiada foi a College Hills Seventh Day Adventist Church, em Knoxville, no Texas, na segunda-feira (22). O Departamento de Bombeiros da cidade disse que o incêndio foi criminoso e, além da igreja, destruiu também a van da instituição. Na terça-feira (23), em Bacon, no Estado da Geórgia, a God’s Power Church of Christ, também predominantemente negra, foi incendiada intencionalmente de acordo com a polícia local.
Na quarta-feira (24), um incêndio atingiu a Briar Creek Baptist em Charlotte, na Carolina do Norte, e bombeiros afirmaram que as chamas também foram provocadas intencionalmente. Foram destruídos o santuário e o ginásio, causando um prejuízo de aproximadamente US$ 250 mil (cerca de R$ 800 mil). No mesmo dia, a Fruitland Presbyterian Church, em Gibson, no Tenessee, registrou um incêndio e ainda não foram identificadas as causas.
Na sexta (27), o fogo danificou mais duas igrejas: a Glover Grover Baptist Church em Warrenville, na Carolina do Sul, e a Greater Miracle Apostolic Holiness Church, em Tallahassee, na Flórida. Esta última teve estimado um prejuízo US$ 700 mil (mais de R$ 2 milhões). Não existem as confirmações sobre como o incêndio se iniciou nestes dois casos.
Igrejas de comunidades negras vêm sendo alvo de incêndios desde pelo menos 1822, ano em que ocorreu o primeiro registro de incêndio criminoso em uma instituição predominantemente negra, justamente na Carolina do Sul. Desde 1956 foram pelo menos 91 casos de incêndio, vandalismo e tiroteio, de acordo com um levantamento do Huffignton Post. Um dos ataques mais violentos foi durante a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, em 1963, onde 4 jovens foram mortas e outras 22 pessoas ficaram feridas em um atentado à Street Baptist Church, no Alabama.
E não parou por aí. A década de 1990 ficou marcada pelo surto de violência racial que atingiu o país. Mais de 30 igrejas foram queimadas entre os anos de 1995 e 1996. O mais assustador é que uma das instituições incendiadas na época foi justamente a Igreja Episcopal Africana Monte Sião, alvo desta terça. Há exatas duas décadas, em 1995, dois jovens brancos vestidos com trajes da Ku Klux Klan incendiaram criminosamente a igreja. Isso obrigou os Estados Unidos a tomarem uma posição sobre a questão, e, em 1996, foi criado o Ato de Prevenção aos Incêndios Criminosos de Igrejas, que deu mais poder aos agentes federais sobre a questão e aumentou a pena para crimes deste gênero.
Apesar dos esforços, em 2004 dois homens admitiram ter vandalizado a Mount Moriah Baptist Church, em Roanoke, no Estado de Virginia. Quatro anos depois três homens foram condenados por incendiar criminosamente a Macedonia Church of God in Christ, na cidade de Springfield, em Massachussets, para protestar contra a eleição de Barack Obama. Em 2010, um homem branco jogou uma bomba na Faith in Christ Church na cidade de Crane, no Texas, em uma espécie de ritual para entrar em uma gangue de supremacia branca.
A própria Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel, a mais antiga da comunidade negra do sul dos Estados Unidos, formada por negros livres e escravos, e que sofreu com o massacre de Charleston, possui um longo histórico de violência. Em 1822 ela foi destruída por um incêndio devido a uma ameaça de um dos fundadores de liderar uma revolta dos escravos. Parece que a máxima de Karl Marx cabe perfeitamente para a questão racial nos EUA: a história se repete.
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