O presidente da França, François Hollande, chegou na noite deste domingo (10) a Havana, capital de Cuba, para a primeira visita oficial de um chefe de Estado francês desde que a Revolução triunfou na ilha, em 1959, e também a primeira visita de um chefe de Estado europeu desde que Cuba anunciou sua reaproximação diplomática com os Estados Unidos, em dezembro do ano passado. Será o início de uma viagem do dirigente europeu por vários países do Caribe, que vai terminar no dia 12 de maio, em Porto Príncipe, no Haiti.
Segundo a imprensa cubana, Hollande vai se reunir nesta segunda-feira (11) o presidente do país, Raúl Castro, após uma intensa agenda que inclui um encontro com o cardeal Jaime Ortega, o representante máximo da Igreja Católica na ilha, a quem será entregue uma insígnia de Comandante da Legião de Honra, a mais alta distinção francesa. Nesta segunda também estão marcados encontros com estudantes e professores da Universidade de Havana, onde serão assinados vários acordos de intercâmbio acadêmico e cultural e será inaugurada uma sede da Aliança Francesa na capital cubana.
A viagem tem também um caráter econômico, já que Hollande vai encerrar um fórum em que participam membros de uma delegação empresarial francesa, como a Pernod Ricard, Accor, Air France, Carrefour e Orange. “Venho aqui com grande emoção, porque é a primeira vez que um presidente da França visita Cuba. É um símbolo ser o primeiro chefe de Estado ocidental a participar da abertura de Cuba e apoiá-la nessa mudança”, disse ele ainda no aeroporto do país.
Durante a semana que precedeu o encontro, Hollande disse à imprensa francesa que “está visitando a Cuba de hoje, não a de ontem” e que a ilha “está em um outro tempo”. Ele também afirmou que pretende “falar sobre tudo” com Raúl Castro, se referindo às questões dos direitos humanos abordados pelos jornalistas europeus. O jornal francês Le Monde publicou editorial nesta segunda-feira (11) afirmando que o encontro vale mais como uma visita da esquerda francesa ao “mito cubano” e lembrou que o último político do país a visitar a ilha caribenha foi justamente o entusiasta da Revolução Cubana, François Mitterrand, em 1974. O Le Figaro, por sua vez, afirmou que a visita de Hollande vai colocar um olhar especial de empresas francesas em setores imobiliários e de construção civil de Cuba.
“A União Europeia, pelas suas relações bilaterais, manteve relações econômicas com Cuba, apesar da posição comum e de algumas dificuldades que ocorreram com o bloco. Na realidade, a decisão dos Estados Unidos em mudar sua política com Cuba também facilitou o caminho para os países europeus fazerem o mesmo”, analisou o professor Jesus Arboleya, da Universidade de Havana, em entrevista à agência de notícias portuguesa RFI.
Encontros na Europa
O presidente de Cuba, Raúl Castro, retornou nesta segunda-feira (11) para a ilha, após uma viagem por Argélia, Rússia e Itália. Neste último país, se encontrou com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e com o Papa Francisco, no Vaticano. Na primeira reunião, com Renzi, Raúl afirmou que a Itália “tem um papel importante nas negociações entre Cuba e a Europa, que devem ser concluídas até o final do ano”. Matteo, por sua vez, afirmou que a aproximação com a ilha faz parte de uma “nova página na história das relações entre os países”.
Segundo o portal cubano Cubadebate, Raúl ficou reunido com o Papa Francisco por 55 minutos, considerado um tempo recorde pela imprensa local. Os jornais italianos repercutiram o fato de o encontro ter sido mais demorado do que Jorge Bergoglio teve com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em março do ano passado. À época, a reunião durou 52 minutos e ainda teve a interferência de intérpretes, o que não houve no caso de Raúl, já que a língua nativa dos dois é o espanhol. Após o encontro, Raúl disse que está ansioso para a visita de Papa a Cuba, no final do ano, que “vai assistir todas as suas missas” e que “pretende até voltar para a Igreja Católica” por causa do Papa.
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