A imprensa internacional se mostrou dividida entre os dois candidatos a presidência do Brasil depois da divulgação dos resultados e do consequente segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Nos EUA e na Europa, a economia foi o foco da maior parte dos veículos de imprensa, enquanto na América Latina percebe-se certa surpresa pela presença de Aécio no pleito com a atual presidenta.
Nos Estados Unidos, o New York Times reconheceu o favoritismo de Dilma Rousseff ao pleito de 26 de outubro, mas afirmou que a presença de Aécio Neves no segundo turno é “reflexo do desencanto de muitos eleitores com o Partido dos Trabalhadores, que quer continuar no poder em meio a uma economia estagnada e um escândalo na indústria de petróleo do país”. O jornal também afirmou que o tucano faz parte de uma poderosa família política brasileira, que os programas de transferência de renda do governo petista são fundamentais para a sua manutenção e cita o interesse do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em levar Marina Silva para a chapa do PSDB. O diário de economia The Wall Street Journal foi mais opinativo, ao dizer que os investidores estão exagerando em desacreditar de um possível novo mandato de Dilma. “Ela pode ser forçada a mudar caso seja reeleita, dadas as terríveis dificuldades da economia e o risco de mais rebaixamentos nas classificações de crédito”, diz um trecho de reportagem publicada nesta segunda (6). Outro importante jornal dos EUA, o Washington Post, deixou evidente sua preferência por Aécio Neves em reportagem publicada nesta terça (7) em que chama o tucano de “o candidato ideal para os negócios” e dizendo que “[Dilma] Rousseff tem vulnerabilidades” e que a pequena distância entre os presidenciáveis na votação de domingo mostrou um “sinal de que a nação está pronta para uma mudança”.
Na Europa, o veículo mais voltado ao Brasil, inclusive com uma edição diária em português, o El País, da Espanha, publicou uma reportagem nesta terça-feira onde diz que os problemas econômicos brasileiros dão força para Aécio Neves, que outrora estava fora da corrida eleitoral. “A economia impulsa sua candidatura e é uma das bases que [Aécio] Neves vai empregar na decisiva batalha com [Dilma] Rousseff. E a economia crê em Aécio”, diz um trecho da matéria. Na França, o Le Monde evitou criticar ou apoiar candidatos, mas uma das matérias sobre as eleições mostra a crise da economia do País, com a queda do crescimento, o aumento da inflação e, por outro lado, a pequena taxa de desemprego. O italiano Corriere dela Sera salientou que a votação mais expressiva de Dilma foi no Nordeste, onde o efeito dos programas sociais do PT é maior, e que Aécio Neves teve o dobro de sua margem nacional de eleitores em São Paulo. Na Inglaterra, o The Economist foi o único a prospectar sobre as eleições de 26 de outubro, admitindo que Dilma Rousseff ainda tem vantagem sobre Aécio. “Já esperávamos que aconteceria um segundo turno e continuamos a acreditar que Dilma tem uma ligeira vantagem sobre Aécio”, diz editorial publicado nesta terça-feira (7), e o também britânico The Guardian publicou artigo intitulado “Poderia Dilma Rousseff perder o segundo turno?”, onde traça a possibilidade dos eleitores de Marina Silva votarem em Aécio no dia 26.
A imprensa latino-americana ficou mais neutra em relação ao processo eleitoral do Brasil: o Clarín, da Argentina, disse que a corrupção será o tema principal dos debate até o segundo turno e mostrou-se espantado com o fato de um palhaço – Tiririca – ter sido reeleito para a Câmara, e o El País, de Montevidéu, fez um perfil de Aécio Neves, tamanha surpresa por vê-lo na disputa com Dilma, onde diz que ele levou uma “vida despreocupada na juventude, mesclando praias, mulheres, drogas e estudos universitários de economia”. O La Tercera, do Chile, foi mais expressivo, ao dizer que a derrota de Marina Silva “mostra que os brasileiros optaram novamente pela política tradicional”. O artigo mais completo – e por que não, real – sobre o quadro político do Brasil, porém, foi do El Espectador, da Colômbia, que questionou as pesquisas eleitorais antes do primeiro turno, o desempenho dos candidatos no debate da TV Globo e a relação entre Aécio Neves e o mercado. “A eleição brasileira será decisiva para o futuro do Brasil e da América Latina, porque não está em jogo apenas o novo presidente brasileiro, mas também um novo modelo político”, diz outro trecho da matéria. Na Bolívia, as pesquisas dos institutos de estatísticas também foram atacadas.”Os resultados dão esperança à oposição boliviana, que costumava dizer que pesquisas falham”, diz artigo no jornal El Deber.
Na África e na Ásia, a imprensa deu pouca repercussão ao pleito brasileiro. Na China, os jornais apenas repercutiram as notícias de agências de notícias, assim como na Rússia e nos países do leste europeu.
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