Imprensa internacional se divide com reeleição de Dilma

A imprensa internacional se dividiu entre opiniões e dados após a reeleição de Dilma Rousseff (PT) para mais quatro anos no governo do Brasil. Na Europa, periódicos da Inglaterra foram os mais opinativos sobre a escolha do eleitorado brasileiro. Na França e na Itália, o resultado das urnas parece ter agradado aos principais veículos de comunicação. Na América Latina e na África, o foco foi a melhora econômica do País após uma longa campanha eleitoral pautada sobre o assunto.

Na Europa, o The Guardian, um dos principais periódicos do Reino Unido, foca sua reportagem nos feitos do PT em favor dos pobres e do níveis de emprego, mas cita também os escândalos da Petrobras e a luta da mídia contrária ao partido para tirá-lo do governo. O The Economist, porém, foi mais sucinto: diz que, ao contrário do discurso de Dilma, o País ficará dividido e que as palavras da presidenta após a vitória foram arrogantes. “Rousseff falou arrogantemente de ‘unidade, ‘consenso’ e ‘diálogo’, mas as feridas da campanha tiveram um começo ruim, quando ela sequer mencionou Aécio Neves em sua fala”, diz um trecho da reportagem. Logo após o primeiro turno, o jornal já havia se manifestado a favor de Aécio Neves.

The Guardian, da Inglaterra, enfatiza equilíbrio da campanha. Foto: Reprodução / theguardian.com
The Guardian, da Inglaterra, enfatiza equilíbrio da campanha. Foto: Reprodução / theguardian.com

O espanhol El País relembrou a trajetória política de Dilma Rousseff, sua luta contra um câncer em 2009 e chamou a petista de “a presidenta com caráter”. O diário enfatiza a pequena margem de diferença entre ela e o candidato adversário, Aécio Neves (PSDB), e diz que “um país dividido será mais difícil de governar”.

El País, da Espanha, elogiou Dilma Rousseff. Foto: Reprodução / elpais.com
El País, da Espanha, elogiou Dilma Rousseff. Foto: Reprodução / elpais.com


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Le Monde, da França, traça um paralelo entre os regimes militares da América Latina e a consequente curva esquerdista dos países após esse período. O jornal afirma que a reeleição de Dilma Rousseff no Brasil foi equilibrada, e que a divisão no País pode ser o início de uma mudança ideológica na região. O periódico francês também  Já o italiano Corriere Della Sera, menos pesado, chama Dilma de “tia” e de “coração valente” e lembra dos louros recentes do governo da presidenta. “Com todas as limitações, Dilma governa um Brasil com pleno emprego, onde um grande número de pessoas necessitadas recebem uma ajuda fundamental do Estado e onde a nova classe média pode comprar carros, eletrodomésticos, viagens de avião e come carne todo dia”, diz um trecho. Na Alemanha, o Bild se limitou a repercutir as palavras dos candidatos após as eleições e disse que a vitória petista foi apertada.

Sem título

Nos Estados Unidos, o New York Times afirmou que a campanha eleitoral foi turbulenta, mas que o governo petista venceu por seus importantes ganhos na redução da pobreza e nos baixos níveis de desemprego. “Enquanto Dilma venceu por uma pequena margem, a corrida foi marcada por denúncias de corrupção, insultos pessoas e debates acalorados”, diz uma parte da reportagem. O Wall Street Journal foi mais opinativo, contrariamente, ao PT e a Dilma, lembrando dos problemas econômicos e dos esquemas corruptivos. “Nem uma recessão da economia, uma inflação de 6,7% e um fraude na petroleira Petrobras bastaram para impedir a reeleição de Dilma Rousseff. A candidata se apresentou, durante a campanha, como a candidata antimercado e do estado de bem-estar social, que talvez explique sua votação expressiva no Norte do País”, afirma um trecho.

Na América Latina, a maioria dos jornais elogiaram a reeleição de Dilma Rousseff e os mandatos do PT nos últimos anos, mas houve oposições ao que foi decidido nas urnas. Poucos periódicos da região abordaram os aspectos da relação entre o Brasil e os seus países vizinhos.

Na Argentina, o La Nacion, de Buenos Aires, criticou a escolha do eleitorado, primeiro com um artigo do historiador brasileiro Marco Antônio Villa que diz que “Lula deixo um rastro de destruição por onde passou” e que “depois de três décadas, o PT não tem nenhum quadro político que possa se transformar em referência”. Depois, o jornal repercutiu a forte queda da Bolsa de Valores de São Paulo, que abriu a manhã desta segunda-feira (27) com queda de 6,2%. O Clarín, mais dedicado a análises de ambiente, diz em um artigo assinado pela correspondente Eleonora Gosman, que a presidenta terá dificuldades para governar diante de um Congresso conservador e que os ajustes econômicos levarão boa parte do mandato de Dilma. O texto também afirma que o PSDB, como oposição, pode permanecer unido contra o PT ou voltar a ver antagonismos internos. O períodico argentino também deu destaque para a queda do mercado brasileiro nesta manhã.

Ao contrário dos argentinos, o El País, do Uruguai, rasgou elogios para Dilma e o PT. Cita os programas sociais, as boas margens de emprego, a redução da pobreza e o trabalho de erradicação da fome. “Desde 2003, o PT praticamente transformou o Brasil”, diz um dos trechos da reportagem, que ainda chama Dilma de “dama de ferro”.

Jornais da Bolívia, da Colômbia e do Chile também elogiaram Dilma Rousseff e os governos petistas, apesar de citarem os escândalos de corrupção. O boliviano El Deber, que também chama a presidenta de “dama de ferro”, diz que a vitória foi justa.
O El Espectador, de Bogotá, também foca na redução da pobreza, mas não deixa de citar alguns problemas que o País enfrenta. “O Brasil está faminto por educação, saúde e transporte, e os brasileiros estão cansados de corrupção e de que não verem seus impostos revertidos em bem-estar”, afirma. Já o La Tercera, de Santiago, chega a explicar o cenário político brasileiro como fator fundamental da reeleição de Dilma e adverte sobre as mudanças na relação com os países da região. “O PT não é mais um partido de esquerda, assim como o PSDB, da social-democracia, se posicionou à direita. Este traço na disputa para gerenciar demandas sobre o gigante regional pode influir alterações na política regional, embora o Brasil tenha outra e é considerado um outro continente”, diz.

Na África, houve pouca repercussão da vitória petista: o Cape Times, da África do Sul, foi o que teve a maior repercussão da região: disse que Dilma terá trabalho para recuperar o País economicamente, que foi o “queridinho de Wall Street” e que o primeiro passo será a tentativa de estancar a inflação.


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