O governo da Indonésia vai reconsiderar a compra de 16 aviões modelo EMB-314 Super Tucano fabricados pela Embraer depois que a presidente Dilma Rousseff se recusou a receber as credenciais do novo embaixador indonésio no País, Toto Riyanto, na semana passada. Ele foi chamado de volta a Jacarta no sábado (21), em um primeiro ato de repúdio diplomático tomado pelo país asiático. Além das aeronaves, a negociação incluía também a aquisição de lança mísseis brasileiros. As informações são do jornal Jakarta Post.
De acordo com a publicação, o vice-presidente da Indonésia, Jusuf Kalla, disse na segunda-feira (23) que o governo do país ainda não sabe se vai efetuar a compra, que estava sendo negociada diretamente com o Estado brasileiro. Nem a Embraer nem o governo do país asiático divulgaram os valores do negócio. No final de semana, o presidente indonésio, Joko Widodo, disse novamente que o Brasil precisa respeitar as leis locais, assim como já havia falado em janeiro, quando o brasileiro Marco Archer Moreira, sentenciado a pena de morte por tráfico de drogas, foi executado. “Decidi retirar o embaixador indonésio do Brasil porque é uma questão de soberania do Estado e da dignidade da nação”, afirmou. “Não deve haver nenhuma intervenção na pena que decidimos, pois é nossa soberania legal, soberania política”, completou.
Em entrevista para outro jornal indonésio, o Kompas, Kalla foi mais enfático sobre as relações entre os dois países. “A Austrália apenas implorou para nós [sobre o cidadão australiano executado em janeiro], enquanto o Brasil nos insultou”, disse ele. O vice-presidente afirmou que os acordos comerciais com a Austrália não serão afetados, mas que o governo local deve rever suas posições políticas e econômicas perante o Brasil. “Se é assim, temos que reduzir nossas atitudes, como, por exemplo, diminuir as exportações e considerar a compra de equipamentos militares brasileiros”, reclamou ele, para dizer em seguida que os Estados Unidos, a Coreia do Sul e alguns países da Europa podem fornecer o material militar que seria adquirido da Embraer.
Também ao diário Kompas, o secretário de Estado da Indonésia, Sugeng Pratikno, afirmou que a Indonésia não deve se preocupar com as posturas dos governos de outros países frente aos processos de pena de morte em andamento. Ele ainda lembrou que a economia indonésia está entre as 16 maiores do mundo e que a cooperação com outras nações sempre foi um dos esforços do governo local. “A Indonésia sempre preferiu manter uma boa relação com todos os países. Esse é nosso compromisso. É claro que temos que ter a capacidade para saber o que precisamos fazer, até porque somos uma das 16 maiores economias do planeta”. Sobre o Brasil, Pratikno disse que o País “continua a ser importante para a Indonésia por causa do interesse regional no estabelecimento de cooperação com os países em desenvolvimento do sul”.
Histórico
A relação entre Brasil e Indonésia começou a se deteriorar em janeiro, quando o país asiático fuzilou o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, depois de ele ser condenado à morte por tráfico de drogas. Ele tentou entrar com 13,4 quilos de cocaína no país, em 2003. Foi o primeiro brasileiro da história a ser condenado à morte e executado posteriormente fora do País.
No mesmo dia, o governo brasileiro convocou o embaixador do Brasil em Jacarta, Paulo Alberto da Silveira Soares, para consultas em Brasília. No protocolo das relações internacionais, o gesto é compreendido como um agravo no contato entre dois países. A Holanda fez o mesmo dias depois. O assunto foi um dos mais comentados no site de Brasileiros em janeiro, depois que Archer foi executado.
Há outro brasileiro condenado à morte por tráfico de drogas na Indonésia: o paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 42 anos, que está preso no país asiático desde 2004. O governo brasileiro ainda tenta adiar a sua execução, prevista para acontecer até março.
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