O programa de ajuste ortodoxo implementado na Argentina pelo presidente Mauricio Macri a partir de dezembro provocou uma disparada dos preços. Em janeiro de 2015, sob Cristina Kirchner, a inflação estava em 25% ao ano, segundo o índice calculado por deputados ligados a Macri. Após a posse do novo governo, a inflação subiu a 30%, em janeiro, e em junho superou 40% ao ano.
Em junho, a inflação mensal, segundo o índice oficial, ficou em 3,1%, enquanto no mês anterior bateu em 4,2%. No dia 14 do mês passado Macri enfrentou o primeiro panelaço contra seu governo. Os manifestantes foram às ruas para protestar contra o aumento nas tarifas de água, luz, gás e telefone. Macri retirou todos os subsídios que os governos de Néstor Kirchner e Cristina Kirchner utilizavam para reduzir o valor dessas tarifas, o que provocou reajustes de preços de 200% a 2.000%. Além de Buenos Aires, houve grandes manifestações contra Macri em Córdoba, Rosario, Mendoza, San Luis, San Juan, Santa Fe, Paraná, La Rioja, Neuquén, Salta e Chubut.
Além de aumentar a inflação, as medidas neoliberais de Macri afundaram o país na recessão. A consultora Scentia informou que o consumo caiu 6,4% em junho em comparação com maio: o gasto médio por compra caiu 26,3%. Alguns setores da economia foram muito afetados: a atividade na construção civil caiu 19,6%, e a da indústria recuou 6,4%. Segundo os sindicatos, até junho já tinham sido demitidos 200 mil assalariados. Para completar, Macri vetou uma lei antidemissões aprovada pela oposição com o apoio sindical, que previa a suspensão de demissões por 180 dias.
O número de pobres teve um aumento de 1,4 milhão de pessoas só nos três primeiros meses de um governo que se elegeu prometendo “pobreza zero”. Segundo a Universidade Católica, a miséria atingiu 34% dos argentinos no primeiro semestre. O aumento do desemprego e a queda dos rendimentos provocados pela política ortodoxa de Macri modificaram hábitos arraigados entre os argentinos: os churrascos rarearam, pois o preço da carne dobrou. Os sindicatos de trabalhadores, que tinham aceitado reajustes salariais de 25%, estão cobrando a revisão dos acordos assinados.
Os reajustes de tarifas públicas não estão sendo acolhidos sem resistência. As ações impetradas pelos consumidores na Justiça obrigaram as empresas de gás a anular os reajustes, para não ter de emitir duas vezes todas as contas. A popularidade de Macri está caindo, e alguns de seus aliados já começam a se afastar do governo. Sergio Massa, um peronista que tinha se bandeado para seu lado, disse que o aumento das tarifas foi como “entrar numa sala de operações com uma motosserra”.
Na segunda-feira (1º), o papa Francisco se disse preocupado com o aumento do desemprego na Argentina: “A São Caetano pedimos pão e trabalho. O pão é mais fácil de conseguir porque sempre há alguma pessoa ou instituição boa que te cerca, pelo menos na Argentina onde nosso povo é tão solidário. O trabalho é tão difícil de consegui-lo, sobretudo quando continuamos vivendo momentos nos quais os índices de desemprego são significativamente altos”, afirmou o pontífice.
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