Intervenções militares fazem da França um alvo de atentados, dizem especialistas

Foto: Elysee
Foto: Elysee

Mais um atentado na França, acontecido em Nice nessa quinta-feira (14), confirma que o país europeu virou um dos principais alvos do terrorismo no Ocidente. Para o especialista em Oriente Médio e professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, isso acontece como resposta às intervenções sistemáticas do país em conflitos do Oriente Médio.

“A partir do Nicolas Sarkozy, e sobretudo com o François Hollande, a França passou a intervir mais: Mali, Líbia e a questão da Síria e Iraque. Dos países europeus é o que está mais à frente, tem feito intervenções sistemáticas em temas do Oriente Médio. Aí a França ficou na rota dos grupos, passou a ser alvo”, diz ele.

Nasser faz a ressalva de que, apesar de os atentados no Ocidente terem aumentado, o número ainda é muito menor do que em outras regiões. A quantidade de atentados no mundo todo, aliás, cresce de forma exponencial: “De acordo com Global Terrorism Index, o número total de mortes por terrorismo em 2014 aumentou em 80% quando comparado com o ano anterior. Este é o maior aumento anual nos últimos 15 anos. Desde o início do século 21, o número de mortes por terrorismo passou de 3.329 em 2000 para 32.685 em 2014. Sendo que 80% dos atentados ocorrem em 5 países: Iraque, Síria, Afeganistão, Paquistão e Nigéria. Então não dá nem para comparar com a França”.

O professor descarta a tese de que a segregação da população imigrante na França contribua para a ascensão de atentados no país: “Acho isso um grande equívoco. A França tem 4,5 milhões de islâmicos, a grande maioria vive nas periferias de Paris. Essas pessoas, quando agem, é de outra forma: em manifestações, pequeno atos de vandalismo, queima de carros, mas o percentual que participa de atos de terrorismo é mínimo”.

Para Marcelo Valença, professor de Relações Internacionais do UERJ, os atentados na França têm também uma explicação de logística: “A França tem cerca de 10 mil suspeitos na lista de radicalismo, que demandariam atenção 24 horas e 20 agentes para fazer o controle de cada um. Mas a França tem menos de 5 mil agentes atuando”. Além disso, Valença ressalta o passado colonizador do país como um fator que contribui para ter se tornado alvo de ataques: “A cultura francesa tem uma proximidade de países islâmicos, tanto geográfica quanto  cultural. A França foi uma grande metrópole para esses países, há sempre uma tentativa de subjugar quem dominava antes”. O professor também atribui os ataques à marginalização da comunidade muçulmana no País.

Olimpíada

A Eurocopa, sediada na França neste ano, foi o último grande evento esportivo e correu sem qualquer incidente de segurança. Sobre os Jogos Olímpicos no Brasil,  Valença diz que aqui a população muçulmana é integrada à sociedade, mas o País poderia sofrer um ataque durante os Jogos Olímpicos por um “lobo solitário”.

Para ele, o governo brasileiro mudou de discurso desde a notícia de que um brasileiro do Estado Islâmico planejava um ataque à delegação francesa: “O atentado de ontem aumenta as preocupações com relação a um ataque de um lobo solitário em grandes multidões”. Em entrevista à rádio CBN, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, declarou que o atentado na França deve promover maior rigidez nas medidas de segurança durante o evento, o que pode causar transtornos ao público.


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