Mujica se despede da Presidência em festa emocionada

Cerca de duas mil pessoas comparecem no final da tarde desta sexta-feira (27) ao primeiro ato de despedida do presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, na Plaza Independência, no centro de Montevidéu, capital do país. Ele cumpriu a tradição de receber – das mãos do chefe do exército uruguaio – a bandeira que tremulou na praça durante o seu mandato, iniciado em 2010. Neste domingo (1), ele passará oficialmente o poder para seu colega de partido, Tabaré Vázquez, que venceu as eleições presidenciais do ano passado.

Vázquez e o seu vice, Rául Sendic, também participaram do evento, além de ministros de governo e secretários convidados. No único discurso do encontro, o presidente Mujica lembrou do período em que foi guerrilheiro, ironizou o fato de o Uruguai ser chamado de “Suíça latino-americana” e, emocionado, agradeceu ao povo uruguaio pelo período em que governou. “Passaram rápido esses cinco anos. É uma luta entre o egoísmo natural que temos dentro de nós e a solidariedade. A solidariedade é a defesa das espécies. Querido povo, obrigado! Obrigado pelos seus abraços, obrigado pelos suas ríticas, obrigado por seu amor e acima de tudo para por seu companheirismo cada vez que me senti sozinho no meio da Presidência”, disse. “Eu não vou [embora], eu estou chegando. Eu vou com o último suspiro e onde você estiver, estarei com você, porque essa é a forma superior da vida”, completou.

A aglomeração na Plaza Independência começou às 14h (horário de Montevidéu – 13h, horário de Brasília), quando comerciantes aproveitavam o evento para comercializar bonecos de Mujica, bandeiras do Uruguai e do seu partido, o Frente Amplio, e fotos do presidente. Muitos turistas – incluso brasileiros – também compareceram ao local. O vendedor gaúcho Eduardo Machado foi dos que perceberam a possibilidade de fazer dinheiro na festa: ele produziu em casa bonecos com o rosto de “Pepe” Mujica em papel machê e estava vendendo por 300 pesos uruguaios (R$ 28) em frente ao palácio presidencial. “Eu estou vendendo tão bem que não sei se vou estar aqui no domingo, no dia da posse do Tabaré, porque acredito que acaba antes”, comemorou.

A despedida de Mujica da Presidência do Uruguai também provocou sentimentos distintos. A maior parte das pessoas demonstraram afeto ao presidente, enquanto outras – mais raras – discordam das políticas implantadas por ele. “Sujeitos como Mujica não nascem toda hora. Ele é um exemplo não apenas para mim, mas para o nosso país e para o mundo”, afirmou a professora Cecília Cayo, de 34 anos. “Quem é pobre foi beneficiado, mas quem é da classe média, da classe verdadeiramente trabalhadora, sofreu com ele, em diversos sentidos”, reclamou o policial André Turmanti. 

Antes da entrega da bandeira e do discurso, “Pepe” Mujica participou da inauguração do seu quadro no panteão de presidentes do país, na Casa do Governo. Depois, antes de abandonar  o evento oficial, ele foi até a grade de proteção para saudar alguns dos presentes. Durante a noite, o presidente ainda se encaminhou para a prefeitura de Montevidéu, alguns quarteirões adiante da praça, onde falou por uma hora em um seminário organizado pelo Frente Amplio.

Neste domingo, ele passará oficialmente o cargo para Tabaré Vázquez, em um cerimonial que se iniciará durante a manhã e vai se estender pela tarde. Os chefes de Estado do Brasil, Dilma Rousseff, de Cuba, Raúl Castro, da Venezuela, Nicolás Maduro, e o rei da Espanha, Juan Carlos, estão confirmados na posse de Vázquez. Neste sábado (28), os jornais uruguaios repercutem as sentidas ausências do presidente da Bolívia, Evo Morales, que passou a semana em Montevidéu, mas não ficou para a entrega do poder, de Cristina Kirchner, da Argentina, que avisou que enviará seu vice, Amado Boudou, e do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que cancelou a viagem por causa de uma gripe.


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