O técnico em informática Diego Lagomarsino, amigo pessoal do procurador-geral argentino Alberto Nisman, morto há dez dias em Buenos Aires, disse nesta quarta-feira (28) que o amigo estava inseguro e que “não confiava nem nos guardas que faziam sua proteção pessoal” nos dias que antecediam o depoimento que ele daria no Congresso do país, no dia 19. Foi a primeira declaração pública de Lagomarsino e, ainda assim, sem perguntas dos jornalistas, como parte do acordo que o advogado dele, Maximiliano Rusconi, fez com a delegada Viviana Fein, que está cuidando do caso. Na semana passada, a presidente Cristina Kirchner chegou a colocá-lo em suspeita depois que descobriu-se que a arma encontrada ao lado do corpo de Nisman pertencia a ele. Tal hipótese foi negada por Fein nesta quarta-feira.
“Eu estava em casa no sábado e meu telefone tocou durante a tarde. Era uma chamada privada. Eu atendi e era Alberto Nisman pedindo para ir até o seu apartamento, em Puerto Madero. Em vinte minutos estava lá”, disse ele. “Eu cheguei e ele perguntou: ‘você tem uma arma?’ Eu lamentavelmente respondi que sim, e ele me disse que não confiava nem nos guardas que faziam a custódia dele”, completou. Em outro momento do relato, Lagomarsino afirmou que Nisman chegou a dizer que jamais usaria a pistola. “Eu disse que eu não sabia manusear a arma, mas ele me respondeu: ‘não se preocupe porque eu não vou usá-la’”.
Segundo o jornal argentino La Nación, o depoimento de Lagomarsino foi tenso e, durante vários momentos, ele interrompeu o relato, ficando em silêncio. Em um desses, ele revelou outro detalhe importante. “Nisman me disse que tinha ‘mais medo de ter razão do que de não ter razão’ no caso que ia depor, e logo depois me pediu a arma”, afirmou.
De acordo com a imprensa argentina, Diego Lagomarsino não é considerado suspeito pela morte de Alberto Nisman até o momento, apesar da hipótese levantada pela presidente na semana passada. Ele deverá responder, no máximo, por dar uma pistola a alguém que não tinha porte. O advogado dele, Rusconi, disse nesta quarta, em entrevista à Rádio Mitre, que vai pedir aos fiscais do caso que convoquem a presidente Kirchner para depor. “Vou sugerir que Cristina Fernández (de Kirchner) e Aníbal Fernández (secretário-geral da presidência), já que tem tantas informações, que se apresentem como testemunhas”, disse ele.
Enterro
Alguns incidentes ocorreram durante os rituais fúnebres dos restos mortais de Alberto Nisman, nesta quarta-feira (28). O maior deles foi uma pequena confusão depois da chegada de uma coroa de flores enviada pelo Ministério Público Fiscal, orgão do Executivo que está envolvido no caso: em um primeiro momento, a coroa foi retirada pelos presentes da cerimônia, mas quando recolocada por soldados da Polícia Federal, as flores foram pisoteadas pela multidão que acompanhava o cortejo. Mais tarde, a chefe do Ministério Público, Gils Carbó, chegou ao local do velório em um carro que foi recebido com chutes e gritos de “assassina”.
Nesta quinta-feira (29) pela manhã está previsto o traslado dos restos mortais de Alberto Nisman para o cemitério de La Tablada, em uma zona residencial de Buenos Aires.
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