O governo mexicano vai recorrer a instituições internacionais para encontrar e identificar os corpos dos 43 estudantes da escola de Ayotzinapa, assassinados na cidade de Cocula, na província de Guerrero, no sul do país. O anúncio oficial da morte dos alunos, que estavam desaparecidos desde o dia 26 de setembro, aconteceu neste sábado (8), por um procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, na cidade de Iguala, também na província de Guerrero.
Após a confirmação das mortes, foram organizados protestos em todo o país, com maior intensidade na capital, Cidade do México, onde os manifestantes se reuniram na Plaza de Zócalo e tentaram invadir o Palácio Nacional, sede do governo mexicano, com golpes de madeira e colocando fogo no portão principal com coquetéis molotov. A polícia nacional tentou evitar a depredação do local, mas só conseguiu controlar a situação no final da noite, quando boa parte das pessoas já haviam ido embora.
O presidente do México, Enrique Peña Nieto, viajou neste domingo (9) para a China, onde se encontrará com autoridades do país asiático. Ele não aparece em público desde a semana passada, quando um canal de televisão local denunciou a ligação dele com uma grande construtora que, entre os vários contratos firmados com o governo, construiu uma casa de sete milhões de dólares para o presidente.
Nesta segunda-feira (10), os principais jornais do país repercutem os danos ao palácio presidencial e a busca das autoridades policiais aos organizadores do protesto, enquanto, nas redes sociais, a hashtag YaMeCanse (já me cansei, em espanhol) ficou entre os principais assuntos do mundo na noite de domingo. A presidência não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido.
Queimados
Cerca de 50 alunos da Escuela Rural Normal de Ayotzinapa, na província de Guerrero, sul do México, voltavam de um ato pacífico na cidade de Iguala, também em Guerrero, no dia 26 de setembro, onde pediram fundos para a escola, quando os ônibus em que estavam foram parados por um efetivo da polícia na estrada. Dois jovens do primeiro veículo desceram para conversar com os soldados, mas foram baleados. Em seguida, os policiais atiraram em direção aos outros ônibus do comboio, mas os alunos que estavam nestes veículos conseguiram sair correndo pela mata e se esconderam em vilarejos próximos.
Um terceiro carro que vinha atrás, no entanto, não teve a mesma sorte: os alunos foram obrigados a subir nas caminhonetes oficiais e sumiram durante 44 dias, período em que veículos de comunicação e organizações mexicanas e internacionais tentavam encontrá-los com fotografias e recompensas na internet. As entidades também reclamavam os culpados pela morte de seis destes estudantes, que foram baleados na mesma cidade de Iguala em outro ataque organizado pelos policiais.
Durante a investigação, feita pela procuradoria-geral do México, descobriu-se que os 43 estudantes que estavam no terceiro ônibus foram levados pela polícia aos traficantes do grupo Guerreros Unidos, uma das principais facções de tráfico de drogas do país, ligados ao prefeito José Luis Abarca Velázquez e a sua esposa, a candidata ao cargo de prefeita de Iguala nas eleições de 2015, María de los Ángeles Pineda Villa. Então, os 43 alunos da escola rural foram mortos por asfixia ou com tiros. Em seguida, os sicários, como são chamados os traficantes, levaram os corpos para um lixão na cidade de Cocula e atearam fogo durante um dia inteiro para, depois, com os restos mortais dos alunos em sacolas, jogarem no rio Cocula, onde desapareceram.
Segundo o jornal espanhol El País, apenas duas bolsas com fragmentos dos corpos foram recuperadas, e o material encontrado não possibilita realizar provas de DNA. O governo mexicano já pediu ajuda de organismos internacionais na busca e na identificação dos corpos.
Nesta segunda-feira (10), o Ministério Público mexicano indiciou o prefeito José Luis Abarca Velásquez por ser o mandante do massacre. De acordo com o jornal El Universal, da Cidade do México, ele e a sua esposa, María de los Ángeles Pineda Villa, foram detidos em uma casa na periferia da capital na terça-feira (4) e levados para uma prisão na província de México. Eles respondem por outros crimes, como sequestros e corrupção.
Vídeo de três sicários detidos falando sobre as mortes em Cocuta:
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