Saída da União Europeia é atestado de ignorância, diz especialista

Mesa na USP reúne especialistas para discutir o referendo no Reino Unido. Foto: Redação
Mesa na USP reúne especialistas para discutir o referendo no Reino Unido. Foto: Redação

Um atestado de ignorância. A voz dos mais velhos e menos escolarizados. Uma oportunidade de transformação para a União Europeia. Essas são algumas das definições para o resultado do referendo que saiu nesta madrugada (24), na qual a população do Reino Unido decidiu sair da União Europeia.

A cientista política Bettina de Souza Guilherme, Carolina Pavese, coordenadora do curso de graduação em Relações Internacionais na PUC-MG, Kirstyn M. Inglis, jurista escocesa, e Maria Antonieta, economista e professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, participaram de uma mesa nesta sexta-feira (24), na USP, para discutir os impactos da saída do Reino Unido.

Segundo Kirsty, vice-coordenadora do Programa Brasil-União Europeia sediado no IRI-USP, a população do Reino Unido fica em 26ª posição no ranking de conhecimento com relação à União Europeia: “Quem quiser dizer que o referendo é democrático que o diga. Para mim, é um voto de ignorância. As pessoas não fazem a menor ideia do que está em jogo. A campanha foi feita em cima da questão de imigração, que nem é uma política padrão da União Europeia”.

Bettina, que trabalhou no Parlamento Europeu, vê a saída do Reino Unido como uma oportunidade de a União Europeia se tornar mais social e politicamente integrada. “O Reino Unido nunca se sentiu parte do bloco. Não foi amor à primeira vista, mas um casamento por conveniência, sem uma profunda integração política. O único interesse dele para aderir era desregular o mercado. A saída do país provoca um período de turbulência, mas, a longo prazo, temos mais chance de dar um rumo melhor à União Europeia. Para bloquear uma decisão do bloco, é preciso o apoio de 35% da população. Sem o Reino Unido somando ao lado dos liberais, fica mais fácil aprovar medidas progressistas”.

Maria Antonieta é menos otimista quanto às mudanças que podem vir da saída do Reino Unido. Para ela, a desregulamentação do sistema financeiro tem uma dinâmica própria, que não atende às demandas de instituições internacionais e nem da política doméstica. “A saída dos britânicos da União Europeia não muda a atuação do mercado financeiro, que vai migrar para outros lugares. Não sei se a saída traz algum conforto. Na Áustria, na Polônia, na França a ultra direita continua. Tudo bem que o Reino Unido atrapalhava, mas tem gente pior. Mesmo para os mais liberais, era melhor ficar na União Europeia para tentar mudá-la de dentro, ao invés de negociar de fora. Por isso a permanência da Angela Merkel. Acho um momento triste”.

Os impactos comerciais ainda são incertos. O país tem o prazo de dois anos para finalizar o processo de saída do bloco. Para Carolina, o Reino Unido só tem a perder economicamente. O bloco provavelmente dará uma tratamento duro ao país nas negociações posteriores para desestimular um efeito manada dentre os demais membros. “Muitas multinacionais que tinham sede em Londres, para ter acesso ao mercado europeu, mudarão para outras cidades. O setor empresarial era contra a saída, 45% do comércio do Reino Unido vem da União Europeia”.


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