As cada vez mais frequentes expulsões de brasileiros portando cartazes em protesto contra o presidente interino do Brasil, Michel Temer, durante as partidas nos Jogos Olímpicos, estão alimentando um debate sobre os limites da liberdade de expressão em um país que passa por um período de extraordinária agitação política. A opinião é do jornal americano, The New York Times, que no domingo (7) publicou um artigo sobre o caráter “repressivo” das “expulsões” de torcedores nos Jogos.
Temer suportou um coro de vaias quando declarou brevemente o início dos Jogos Olímpicos durante a cerimônia de abertura, na sexta-feira, escreve o diário. No dia seguinte, pessoas portando cartazes “apareceram em vários eventos olímpicos no fim de semana com a frase ‘Fora Temer’”.
“Vídeos, reportagens e relatos em primeira pessoa que circulavam amplamente no Brasil no domingo pelas mídias sociais mostram a retirada de vários fãs no jogo de futebol feminino na cidade de Belo Horizonte”, escreve o jornal. “Eles tinham alinhado a frase ‘Fora com Temer’ em suas camisetas enquanto erguiam as letras em inglês ‘Volte Democracia’”.
Torcedor gritou “Fora Temer” e foi detido pela Força Nacional:
Um vídeo da segurança mostra a transferência forçada de um homem protestando das arquibancadas de uma competição de tiro com arco, provocando a indignação entre os espectadores que testemunharam o episódio.
O Ministério da Justiça disse em comunicado que o homem tinha sido removido porque ele estava “perturbando a concentração dos atletas”. Mario Andrada, um porta-voz do comitê organizador dos Jogos, disse em uma entrevista que a Carta Olímpica incluiu a proibição de propaganda política nos locais de jogo. “As pessoas que violarem essa exigência, gentilmente, serão convidadas a sair”, disse.
“Os cidadãos devem ter o direito de expressar suas opiniões de forma pacífica”, disse Gabriel do Nascimento Guimarães, 31, professor de engenharia. “Eu sou contra a remoção de qualquer pessoa que esteja exercendo o seu direito de liberdade de expressão.”
Torcedores que se manifestaram no estadio do Mineirão, em Belo Horizonte, durante o jogo de futebol feminino da França X EUA, foram reprimidos por funcionários da Olimpíada após puxarem grito de “Fora Temer”:
O jornal cita ainda Juca Kfouri, “um dos colunistas esportivos mais importantes do Brasil”, que chamou as expulsões de “estupidez repressiva”: “Isso só vai incentivar novas manifestações”, escreveu.
O protesto em Belo Horizonte e outros no Rio de Janeiro apontam para os baixos índices de aprovação de Temer, “o político de carreira que saiu vitorioso numa luta de poder contra Dilma Rousseff, que foi suspensa para enfrentar um impeachment sobre manipulação do orçamento federal para esconder problemas econômicos”.
O NYT lembra que Dilma, como o Temer, também é profundamente impopular. “Mas quando ela se afastou dos holofotes, Temer entrou na mira, o que inclui uma delação premiada ligando-o a operações de financiamento de campanha ilegais.”
Executivos da gigante de construção Odebrecht disseram a investigadores que o interino tinha solicitado mais de US$ 3 milhões em favor de seu partido, o PMDB. Segundo os executivos, o pagamento foi feito em dinheiro através de uma unidade usada para entregar subornos.
Temer, frisa o jornal, “já foi considerado culpado por violar os limites de financiamento de campanhas, o que lhe torna inelegível por cinco anos”. Em comunicado, a assessoria de imprensa do interino reconheceu que ele tinha feito pedido à Odebrecht, mas garante que foram legalmente declarados às autoridades.
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