Homem faz bate-volta de Recife a SP por Campos

Odilon e a bandeira de Pernambuco na porta do IML. Foto: Vinícius Mendes
Odilon e a bandeira de Pernambuco na porta do IML. Foto: Vinícius Mendes.

Na última vez que Odilon Santana dos Santos, motorista da Câmara Municipal de Recife, viu o então candidato a presidência do País, Eduardo Campos, ele estava fazendo o que mais agradava: campanha na rua. Foi na tarde da sexta-feira (8), em uma avenida da região central da capital pernambucana, quando Campos e Marina Silva caminharam por cerca de uma hora abraçando pessoas, assinando papéis improvisados pelos eleitores e tirando fotografias com os que ousavam cortar a multidão que acompanhava o evento. “Ele era uma pessoa popular, nunca precisava de policiais e seguranças. Fazia questão de passar de bar em bar cumprimentando os amigos”, lembra Odilon, que coordena os panfleteiros do PSB na cidade. 

Na quarta-feira (13), assim que viu na televisão que Eduardo havia morrido em um acidente aéreo em Santos, litoral de São Paulo, pediu autorização para o diretório do partido, comprou dez passagens de ida e volta para Campinas, no interior paulista, reuniu alguns militantes pessebistas e lhes deu a missão de pendurar duas bandeiras de Pernambuco na cidade, uma na Praça da Sé, no centro, e outra na porta do Instituto Médico Legal, para onde levaram os fragmentos do corpo do ex-governador nesta quinta-feira (14).

Odilon e os outros nove membros da campanha de Eduardo em Recife pretendiam passar 20 horas em São Paulo, desde a chegada em Viracopos às 6 da manhã, até o embarque de volta, às 2 horas da manhã desta sexta-feira (15). “Vai ser um bate-volta mesmo. Apesar da distância, fizemos questão de mostrar o quanto ele era importante para nosso Estado”. No entanto, até a tarde desta quinta, Odilon ainda esperava que o diretório do partido em São Paulo bancasse a estadia dele até a liberação do corpo, prevista para sábado (16). Em frente ao IML, tiveram que conceder entrevistas na calçada da instituição e conversar com prováveis eleitores de Campos que também passaram o dia no portão do instituto.

O motorista conta que trabalhou esporadicamente com Eduardo Campos no primeiro mandato dele como deputado federal por Pernambuco, entre 1995 e 1998. Ele havia sido contratado um ano antes, em 1994, para ser motorista da Câmara dos Vereadores da cidade, depois de passar em um concurso público que o libertou de alguns anos de desemprego. À época, era filiado ao PPS, mas tinha o então ex-governador Miguel Arraes, do PSB, avô de Eduardo, como ídolo político. Na ausência de quem pudesse dirigir para o parlamentar, recebia ordens para buscar Campos no aeroporto ou para levá-lo em eventos por Recife e pela região metropolitana com um dos veículos oficiais do legislativo. “Quando ele estava no banco de trás do carro, era brincalhão, conversava bastante comigo. Era tipicamente um político do nordeste, desses que você bate na porta de manhã e toma café. Aqui em São Paulo os políticos andam escondidos. Deus me livre!”, expressa Odilon. Ele também dirigiu para o atual Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quando morou em Brasília.

“Recife está chorando. As pessoas lá não acreditam ainda que o Eduardo morreu e que não vamos nem poder ver o corpo dele”, conta Odilon. Nesta quinta, fragmentos dos corpos das vítimas da queda do jatinho que levava Eduardo do Rio de Janeiro para o Guarujá, no litoral de São Paulo, chegaram ao IML. O instituto ainda espera a coleta de material genético de algum familiar de Campos para poder fazer as comparações com os restos mortais recolhidos. A tendência é de que o irmão dele, Antônio Campos, forneça amostras ainda nesta quinta.

Odilon amarrou a bandeira de Pernambuco no portão do IML às 14h desta quinta. Depois, pendurou também uma camiseta branca que estampava o nome de Recife e a foto de uma praia, segundo ele, uma referência ao gosto pessoal de Eduardo Campos, que gostava de usar uma camiseta daquele mesmo modelo em suas caminhadas. “Eu nunca mais meto uma roupa dessa no meu corpo”, diz, tremendo as mãos propositalmente.

Durante a conversa com a Brasileiros, que durou cerca de uma hora, ele foi abordado por três pessoas: um pernambucano que trabalha em um posto de gasolina na Avenida Rebouças, na zona sul, que lhe agradeceu pelo fato de Odilon lembrá-lo de “como é bonita a bandeira de seu estado natal”; uma enfermeira, que se apresentou como Sandra, que contou que votaria em Campos por ter visto “verdade em seus olhos” no Jornal Nacional, na terça (11); e um segurança de um dos canais de televisão que faziam a cobertura do dia no IML, com quem Odilon discutiu após ouvir dele que “não se importava com morte de políticos”.

Depois, sozinho com a bandeira, Odilon chorou.


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