Nem a oposição ao governo achou normal o pedido de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva feito na quinta-feira (10) pelo Ministério Público do Estado de São Paulo. Para lideranças de PSDB, DEM e PPS – os principais partidos defensores do impeachment – a justificativa dada pelo MP de que Lula poderia interferir nas investigações sobre a propriedade de um tríplex no Guarujá foi “exagerada” e “precipitada”.
Os promotores Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Moraes de Araújo alegam ocultação de patrimônio e falsidade ideológica ao escrevem que “a prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal.” Um exagero até para opositores.
Considerado o principal nome da oposição, o presidente do PSDB e senador Aécio Neves (MG) classificou o pedido de “exagero”. “Considerei um exagero esse pedido de prisão do Lula. Não vi razões para isso”, afirmou, em sintonia com o vice-presidente e coordenador jurídico da sigla, deputado Carlos Sampaio (SP). Para ele, os promotores se precipitaram. “Com os elementos que eu detenho até agora, não havia razão para o pedido de prisão junto com a denúncia”, disse. “Os elementos não me levam a crer que ele [Lula] está conturbando a instrução criminal, que ele está interferindo no processo penal”, acrescentou Sampaio, que também é promotor de Justiça do Estado de São Paulo.
Já o líder do PSDB na Casa, Cássio Cunha Lima (PB), defendeu “prudência” e criticou abertamente o pedido de prisão ao lembrar que “vivemos um momento incomum na vida nacional”. “Não estão presentes os fundamentos que autorizam o pedido de prisão preventiva, até porque o Ministério Público Federal e a Polícia Federal fizeram buscas e apreensões muito recentemente, à procura de provas”, declarou por meio de nota oficial.
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que foi ministro da Educação no primeiro mandato de Lula, mas há tempos faz oposição ao governo, ironizou o Ministério Público, a quem recomendou a cautela de colher todas as “evidências, leis e argumentos” para justificar uma atitude como essa. “Primeiro, em uma democracia, só se prende [uma pessoa] com uma justificativa muito robusta. Qualquer pessoa. Em um momento em que se tenta prender um ex-presidente da República, é preciso uma força muito grande que justifique – evidências, leis, argumentos”, disse Cristovam para quem o pedido de prisão foi um “desserviço” ao País.
O DEM foi mais contido. O deputado Mendonça Filho (PE) concorda ccom a falta de elementos que justifiquem o pedido, enquanto o presidente do partido, José Agripino Maia (RN), pediu “sensatez” e que a decisão de acatar ou não a denúncia, nas mãos da juíza Maria Priscila Ernandes Veiga Oliveira dirá tom sobre “a procedência dos fatos” que levariam à decretação da prisão. “É um momento de grande tensão.”
Além de Lula, os promotores pediram a prisão preventiva de: José Adelmário Pinheiro, Leó Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS; Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira, executivos da OAS; ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Operação Lava Jato; Ana Maria Érnica, ex-diretora da Bancoop; e Vagner de Castro, ex-presidente da Bancoop. A Justiça ainda deve decidir se aceita o pedido e a denúncia apresentada ontem. Não há data para essa avaliação.
Deixe um comentário