Afastamento de Cunha é fruto de acordo político, diz cientista política

Foto: Gustavo Lima/ Fotos Públicas (03/11/2015)
Foto: Gustavo Lima/ Fotos Públicas (03/11/2015)

Havia muito tempo que boa parte da sociedade e alguns setores políticos defendiam o afastamento de Eduardo Cunha. Mas agora que a medida foi realizada, resta uma pergunta: o que fez o Supremo Tribunal Federal levar mais de cem dias para tomá-la ? Nessa segunda-feira (5), o plenário da Corte decidiu que o então presidente da Câmara fosse afastado do cargo de deputado, confirmando a liminar concedida pelo ministro Teori Zavascki, cumprida na manhã do mesmo dia.

Em entrevista à Brasileiros, a cientista política Maria do Socorro Braga, pesquisadora da Ufscar, diz que o afastamento de Cunha “demorou muito para acontecer”. Depois de votado o pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, um acordo político ao redor de lideranças que defendem a saída da petista, incluindo parte do judiciário e da grande imprensa brasileira, teria sido a causa da decisão do STF – que vem no momento em que o impeachment parece irreversível: “O afastamento de Cunha agora acabaria contribuindo para um eventual governo Temer ter maior legitimidade, o que não tem do meu ponto de vista. Mas daria uma apaziguada ao clima todo, contribuiria para que a gente tenha um governo tampão com menos problemas com a Justiça”.  Além disso, a determinação do STF seria uma prestação de contas à sociedade, como demonstração de punição à corrupção, diz Maria do Socorro.

Por outro lado, a cientista política defende que a decisão contra Cunha pode dar elementos jurídicos para que o governo tente anular todo o processo de impeachment que tramitou até agora. A pesquisadora não acredita, no entanto, que a medida seja forte o suficiente para virar o jogo na Comissão Especial do Senado, que deve votar a favor do relatório de Antonio Anastasia nesta sexta-feira (5), aprovando a abertura do processo de impeachment de Dilma.

Maria do Socorro também alerta para o comportamento dos aliados de Cunha neste momento, e diz que há a possibilidade de uma insurgência contra Temer: “Cunha controlava essas bancadas do baixo-clero. Agora vamos ver o quão forte é a lealdade a ele. Se não tiver acontecido esse acordo para tirá-lo, esses partidos podem se voltar contra Temer. Mas podem também agir de forma pragmática. Como Temer está com a caneta na mão, iriam para o lado mais forte”.

A cientista política diz que Cunha não é um fenômeno a parte, mas um sintoma da nossa cultura política e talvez o maior representante dela: “Ele só chegou a esse grau de poder justamente porque tem outros como ele em outras instâncias de poder no Brasil. A partir da punição dele e dos outros é que nós poderemos ter uma classe política mais decente”.


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