“Ah se fosse a Dilma”, diriam petistas. Se fosse o Lula, então… Mas a desculpa esfarrapada partiu do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Questionado pelas redes sociais depois de tornado público o ato governamental que transformou ultrassecretos 157 conjuntos de documentos sobre o transporte metropolitano, incluindo o Metrô de São Paulo e seu cartel, o tucano foi a público justificar a medida: isentou-se completamente de responsabilidade ao culpar a Secretaria de Transportes Metropolitanos, sob comando do demitido Jurandir Fernando Fernandes.
“Olha”, começou Alckmin, “isso foi feito não pelo governador. Isso foi feito na Secretaria dos Transportes e eu já determinei que seja feita uma reavaliação”.
Das três possibilidades, uma: 1 – Fernandes tinha carta branca e podia rasgar a Lei de Acesso à Informação a qualquer momento sem comunicar o chefe; 2 – Alckmin não tem nenhum domínio sobre a pasta de Transportes, dona de um orçamento de R$ 8,7 bilhões neste ano; 3 – Alckmin é um péssimo chefe.
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Já imaginou trabalhar com um superior que joga no seu colo um encargo que, em primeiro lugar, é dele? Em qualquer empresa – mas especialmente na política –, os louros de uma medida de sucesso ou as agruras do insucesso pertencem a seu principal líder. Para a imprensa é assim, pelo menos, desde o “mensalão do PT”, quando nenhum editorial acreditava nas justificativas do ex-presidente Lula de que não sabia dos pagamentos a parlamentares da base aliada em troca de votos para projetos governamentais.
Por alguma razão, os mesmos editoriais jamais questionaram se Fernando Henrique Cardoso sabia da compra de votos para a Emenda Constitucional que criou a reeleição, nos nem tão longínquos anos 1990.
O fato é que Alckmin tinha razões inconfessas de sobra para escamotear a caixa-preta dos transportes. A decisão, tomada sem estardalhaço a quatro meses das eleições de 2014, era providencial – as denúncias de cartel no Metrô eram incensadas pela oposição com a proximidade da campanha. A tensão era tamanha que, em fevereiro, o próprio Metrô decidiu seguir uma recomendação do Ministério Público e suspender a reforma de 98 trens sob o risco de sofrer uma derrota na Justiça e comprometer contratos de R$ 2,5 bilhões.
Jurandir Fernandes, substituído no começo do ano por Clodoaldo Pelissioni, engole agora o constrangimento de uma responsabilidade que provavelmente não pertence apenas a ele. O ex-secretário tem um extenso currículo técnico. É engenheiro mecânico formado pelo ITA, com doutorado pela Unicamp e pós-doutorado em Paris. Já foi diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) antes de comandar os Transportes Metropolitanos do Estado por mais de uma vez, sempre sob Alckmin: de 2001 a 2006 e de 2011 a 2014.
Fidelidade, ao que parece, não é o forte do governador de São Paulo.
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