O vice-presidente Michel Temer (PMDB) não está conseguindo atender todas as promessas feitas aos integrantes da coalizão que defende o impeachment da presidenta Dilma Rousseff antes da votação do processo na Câmara dos Deputados.
O PSD do ex-ministro Gilberto Kassab, que votou majoritariamente pelo afastamento de Dilma, deve ficar fora do Ministério das Cidades, posto que ocupou na gestão petista. Segundo o portal UOL, Temer ofereceu ao partido a pasta das Comunicações, oferta que desagradou profundamente aos integrantes da legenda. Na última terça-feira (3), a bancada do PSD na Câmara se reuniu com Kassab e decidiu que não iria participar do novo governo se não conseguisse de volta a pasta das Cidades.
A bancada do PMDB na Câmara também estaria insatisfeita com os ministérios oferecidos: Desenvolvimento Social, Portos e Esporte, que deve ser ocupado por um aliado do líder do partido, Leonardo Picciani. No governo Dilma, os peemedebistas da Câmara comandavam a Saúde, mas a pasta deve ser entregue a um indicado do PP.
O grande problema é que, como Temer prometeu extinguir 11 pastas, enfrenta agora dificuldades para recompensar seus apoiadores. A rigor, muitos setores da sociedade civil não concordam a supressão das pastas que regulavam seus interesses. A proposta de liquidar os ministérios da Cultura foi muito mal recebida pelo setor.
E a ideia de desmembrar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para reforçar o Itamaraty recebeu muitas críticas do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo): “A proposta que deixei ao presidente é o fortalecimento do ministério da produção e não o desmonte”, declarou Paulo Skaf após uma reunião com Temer.
Diversos parlamentares do PSDB sustentam que o partido não deveria participar de um governo peemedebista. Alguns acham que a legenda deveria fechar questão contra a participação. O presidente do partido, Aécio Neves, foi bastante claro a esse respeito: “O PSDB prefere não participar com cargos no governo. E sim da agenda parlamentar porque é essa que na verdade possibilitará a tirada do Brasil da crise”, disse Aécio.
O líder do PPS, Rubens Bueno, por sua vez, criticou a possibilidade de que investigados na Operação Lava Jato assumam cargos no governo: “É uma questão lógica e até de precaução. E também de coerência, já que nós, da oposição, sempre defendemos que ministros investigados no atual governo deixassem o cargo”. Temer, contudo, deve nomear para o ministério dois de seus principais articuladores políticos, que estão sendo investigados na Lava Jato: o senador Romero Jucá (PMDB-RR) deve ficar no Ministério do Planejamento, e Geddel Vieira Lima provavelmente chefiará a Secretaria de Governo.
Esse descontentamento pode comprometer a aprovação dos projetos de Temer no Congresso. O vice pretendia aprovar diversas emendas à Constituição, mas propostas desse tipo exigem o apoio de três quintos dos congressistas. Essas fissuras na base de apoio do peemedebista já são suficientes para barrar mudanças de vulto, sobretudo em um ano eleitoral, quando os políticos ficam mais vulneráveis às pressões do eleitorado.
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