O plenário da Câmara dos Deputados cassou nesta segunda-feira (12) o mandato de Eduardo Cunha (PMDB), principal articulador do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Abandonado por quase todos os seus aliados, o peemedebista foi cassado por 450 votos a favor, 10 contrários e 9 abstenções. Com a decisão, Cunha ficará inelegível até 2027.
Cunha precisou ser cercado por seguranças da Câmara ao sair do plenário da Casa em direção ao púlpito onde concedeu sua primeira entrevista coletiva como deputado cassado. No Salão Verde da Câmara, ele foi recebido por um grupo de manifestantes que gritava palavras de ordem como “fora, Cunha”, “tchau, querido” e “fora, ladrão”.
À imprensa Cunha sinalizou que poderá retaliar aqueles que o traíram: “Não sou pessoa de fazer qualquer tipo de ameaça, velada ou não. Não faço ameaça. Não tenho nada a revelar sobre ninguém. O dia que o tiver, eu o farei”. Ele afirmou que vai escrever um livro sobre o impeachment: “Eu vou contar, obviamente, tudo o que aconteceu no impeachment, diálogos com todos os personagens que participaram de diálogos comigo em relação ao impeachment. Esses serão tornados públicos na sua integralidade”, disse Cunha. Indagado se havia gravado essas conversas, Cunha respondeu: “Tenho boa memória”.
Em sua entrevista coletiva, o ex-deputado culpou o governo de Michel Temer pela sua derrota: “Eu culpo o governo hoje. Não que o governo tenha feito alguma coisa para me cassar. Mas, quando o governo patrocinou a candidatura do presidente [Rodrigo Maia], que se elegeu em acordo com o PT, o governo, de uma certa forma, aderiu à agenda da minha cassação. O governo hoje tem uma eminência parda, quem comanda o governo é o Moreira Franco, que é o sogro do presidente da Casa. Ele comandou uma articulação que fez com que tivesse uma aliança do PT”.
Segundo a coluna “Painel”, da Folha de S.Paulo, Cunha reclamou do presidente com seus amigos antes da votação: “O Michel não fez nada por mim”. Em uma outra entrevista, concedida antes da sessão, Cunha já tinha atacado Temer: “Há a sensação de que ele fica refém, porque ele entrega a política e o governo para aqueles que foram oposição, que perderam a eleição para ele”. Por isso, disse Cunha, Temer caiu numa armadilha e está executando um programa que não foi aprovado nas urnas. Cunha negou que esteja negociando uma delação premiada, mas afirmou que uma das advogadas que trabalham para ele fez a delação do ex-senador Sérgio Machado (PMDB), que provocou a queda do então ministro Romero Jucá (PMDB-RR).
Ao longo da sessão de votação, ele tentou se defender realçando sua importância no processo de impeachment: “É o preço que eu estou pagando para o Brasil ficar livre do PT. É esse processo de impeachment que está gerando tudo isso. O que quer o PT? Um troféu, para poder dizer que é golpe”. Depois, ameaçou os colegas: “Amanhã vai ser qualquer um de vocês”.
Abandono
O resultado da cassação de Cunha foi mais expressivo do que a de Dilma no processo de impeachment na Câmara. Enquanto 367 dos 513 deputados votaram pela abertura do impeachment no dia 17 de abril, 450 cassaram o mandato de Cunha. Além disso, 137 votaram contra o processo de impeachment de Dilma e só dez tentaram salvar o mandato do peemedebista.
Cunha foi abandonado por quase todos os seus antigos aliados. Só votaram para salvar seu mandato os deputados Carlos Marun (PMDB-MS), Paulinho da Força (SD-SP), Pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), João Carlos Bacelar (PR-BA), Wellington Roberto (PR-PB), Arthur Lira (PP-AL), Júlia Marinho (PSC-PR), Dâmina Pereira (PSL-MG) e Jozi Araújo (PTN-AP).
Também ficaram ao lado de Cunha os deputados que se abstiveram de votar: Nelson Meurer (PP-PR), Alberto Filho (PMDB-MA), Mauro Lopes (PMDB-MG), Saraiva Felipe (PMDB-MG), Rôney Nemer (PP-DF), Delegado Edson Moreira (PR-MG), Larte Bessa (PR-DF), o líder do governo André Moura (PSC-SE) e Alfredo Kaefer (PSL-PR).
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