Na reunião com Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-SP), na noite de segunda-feira (18), em São Paulo, o economista Armínio Fraga avisou ao vice-presidente: “É preciso aproveitar essa expectativa. Não dá tempo de errar, tem que acertar na largada. Sinalize com algo novo, corajoso”. O ex-presidente do Banco Central do governo Fernando Henrique Cardoso foi sondado para o cargo de ministro da Fazenda. Não aceitou, por questões pessoais, mas colocou-se à disposição para apresentar um diagnóstico da situação econômica do País.
O nome mais cotado para o cargo agora é o do economista Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central por oito anos no governo Lula. O senador José Serra (PSDB-SP) corre por fora, mas Temer prefere o tucano no Ministério da Saúde, cargo que o senador não quer voltar a ocupar – Serra ocupou a pasta de 1998 a 2002. Segundo relato de aliados de Temer, Fraga não aceitou o cargo porque não confia na equipe que está sendo montada para comandar o eventual novo governo.
Fraga antecipou que a situação é emergencial, mas fez uma observação: “Seria muito pior hoje se a votação [do impeachment na Câmara] tivesse sido diferente”. Recomendou também que Temer escolha logo o nome do ministro da Fazenda. Explicou que, caso assuma a presidência, precisa ter um plano emergencial para combater a crise econômica. E isso demanda a formação de uma equipe ampla. “Tem que resolver logo o nome do comandante”, enfatizou. O relato do encontro de ontem foi feito por Aécio Neves aos senadores da bancada, em almoço realizado hoje na casa do senador Tasso Jereissati (CE), e no meio da tarde para um grupo restrito de jornalistas, em seu gabinete no Senado.
O presidente nacional do PSDB concorda com as propostas de Fraga: “Não dá para esperar o dia da saída [de Dilma]. Tem que estar com esse plano pronto. Ele não pode assumir com essa sensação de interinidade. Precisa dizer ao País que há uma situação emergencial e apresentar as suas propostas. Acho até que ele deveria enviar ao Congresso cinco ou seis medidas com as prioridades do seu governo”. Aécio afirmou que o PSDB dará apoio apenas institucional ao governo Temer. “O PSDB não fará indicação nenhuma para o governo, mas não vai impedir senador nenhum de ir. Poderemos amanhã ter prejuízos, mas não vamos dar as costas para o Brasil. O meu papel é não deixar que o PSDB perca o papel de protagonista nas eleições de 2018. É claro que tem risco em apoiar um governo que não é o seu. Mas tem um governo Temer no meio do caminho; no meio do caminho tem um governo Temer”, brincou, citando Carlos Drummond de Andrade.
O tucano deixou claro que o partido dará apoio ao projeto de Temer no Congresso. “Nós concordamos com a maior parte da agenda apresentada. Achamos que tem de ser feito o ajuste fiscal, a blindagem das agências reguladoras e das estatais. E tem de ter uma agenda política. Mesmo que não se faça agora, tem que ser apresentada.” Ele defende ainda as reformas previdenciária e tributária. A reunião da bancada do PSDB teve a presença do economista Marcos Lisboa, que participou da elaboração do plano básico econômico de Temer. Ele fez um quadro dramático da situação do País. Um dos senadores, brincando, recomendou que ele apresente o mesmo relato à presidenta Dilma Rousseff, para que ela tenha uma sensação de alívio ao deixar o cargo.
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