Qualquer parlamentar estreante que chegue ao Congresso Nacional montado em impressionantes 335.061 votos obtidos em um eleitorado competitivo como o do Rio de Janeiro chamaria a atenção de seus novos pares, muitos deles raposas da política. Junte-se a isso o fato desse parlamentar ser uma mulher bonita de 32 anos, que nem pode ser considerada “caloura”, já que tem experiência de dois anos como vereadora e quatro como deputada estadual. Um detalhe a mais: Clarissa é filha de Anthony e Rosinha Garotinho, ambos ex-governadores do Rio.
“Fui a mulher mais votada em todo o Brasil nas últimas eleições, deixando para trás muita gente que fez campanhas milionárias”, diz Clarissa, agora apresentando longos cabelos louros. “Mas acho que esse negócio de falarem de beleza, de me chamarem de musa, deixou de ser assunto em bem pouco tempo. Afinal de contas, estou aqui para trabalhar, e muito.” A sucessora do clã Garotinho deverá presidir uma das comissões permanentes da Casa, indicada pelo seu partido, o PR, e prefere que seja uma das destinadas à educação ou voltada para a temática da mulher. Foi nesses setores que ela desenvolveu seu trabalho legislativo no Rio. Mas admite que há uma distância grande entre os legislativos municipais e estaduais, e o Congresso Nacional. “A dinâmica é diferente. Afinal, são centenas de deputados.”
Clarissa diz que ainda precisa aprender e absorver os discursos, mesmo os de cinco minutos no chamado “pinga-fogo”, parte das sessões em Plenário que antecede ou sucede os debates e as votações da pauta de assuntos a serem discutidos e votados pelos parlamentares. “No Rio, eu discursava toda semana e aqui ainda estou na lista para fazer meu primeiro pronunciamento.”
No entanto, no final do mês passado, quando foi consultar o presidente da sessão em andamento, o deputado Carlos Manato (SD-ES), sobre qual sua posição na ordem de inscritos, foi surpreendida com uma oferta irrecusável. “Ele me disse que a lista era longa e não daria tempo para eu falar. Então, me encaminhou para assumir a presidência da sessão. Foi inesperado, mas fiquei feliz.” Durante uma hora, Clarissa, que adora cantar em karaokês, comandou a Câmara dos Deputados.
Outra estreante no Congresso, a deputada federal Shéridan Esterfany Oliveira de Anchieta, do PSDB de Roraima, também quer deixar de lado o aspecto de beleza. Ela, que assumiu o cargo depois de 35.555 votos, que correspondem a 15% do eleitorado de seu Estado, o que a transformou em líder de votos em termos proporcionais, afirma que beleza é algo passageiro e garante ter sido eleita por causa de seu trabalho à frente da Secretaria Extraordinária de Promoção Humana e Desenvolvimento, cargo que ocupou de 2007 a 2014. Na verdade, Shéridan foi nomeada para a secretaria pelo marido, o ex-governador de Roraima José de Anchieta.
A deputada, que é jornalista, surpreendeu a todos em Roraima ao criar uma série de programas sociais atendendo a deficientes físicos, crianças vítimas de violência, jovens e idosos. “A Rede Vida (programa que engloba os diferentes projetos) já foi premiada pelo Unicef, em Portugal e na Espanha. E é essa preocupação com o social, com proteção e apoio às minorias e aos menos favorecidos que pretendo mostrar no Congresso.”
Mãe de Julia, 14 anos, fruto de um primeiro relacionamento, e de Lara, 7, de seu casamento com José de Anchieta, Shéridan também se defronta com o desafio de conciliar trabalho e vida doméstica.“Hoje, é possível, com a tecnologia, a facilidade de comunicação, estar quase presente em locais tão distantes como Boavista e Brasilia. Ou, pelo menos, minimizar o afastamento. Felizmente, tenho uma estrutura organizada em casa e, claro, a Julia ajudar a cuidar da irmã”, diz ela. No entanto, admite, a família ainda está em fase de adaptação.
Sobre seu trabalho em Brasilia, a deputada destaca sua participação em votações importantes, como a do projeto que criminaliza a venda de bebidas alcoólicas para menos de 18 anos e o que coíbe o tráfico nacional e internacional de pessoas. “Esta vai ser a minha linha de ação”, afirmou. Agora, é esperar para ver.
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