Em artigo publicado pelo site da Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (7), o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, diz que o governo Michel Temer está nomeando as raposas para cuidar do galinheiro: “Na Petrobras, Nelson Luiz Costa Silva foi nomeado consultor sênior de Estratégia. Poderia passar como uma nomeação qualquer se Nelson não tivesse vindo dos quadros da BG/Shell, a maior concorrente da empresa pública na exploração do pré-sal. E não era qualquer um: ele simplesmente presidiu o BG Group no Brasil até o início deste ano, quando houve a fusão com a Shell”.
Como consultor da estatal, Costa Silva agora vai ajudar a empresa “a definir as estratégias do Estado brasileiro em relação ao petróleo. A quem servirá? À Shell ou à Petrobras?” Segundo ele, em qualquer país “a nomeação de Nelson Silva seria tratada como um acinte à soberania nacional”. No Brasil, porém, “fez-se retumbante silêncio na grande imprensa” sobre sua indicação.
Na realidade, disse Boulos na Folha, o Brasil já se acostumou a “esta porta giratória, na qual as raposas transitam livremente entre o papel de devoradoras de galinhas e o de supostas zeladoras. Nelson Silva, é claro, não é o único. Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda e presidente do Banco Central sob Lula, é oriundo do Bank Boston. O famigerado Joaquim Levy, ministro de Dilma, veio do Bradesco”.
De acordo com o líder do MTST, o presidente Temer parece não ter freios em relação a isso. Além de Nelson Silva e Henrique Meirelles, há o caso de Ilan Goldfajn, que deixou o Itaú para presidir o Banco Central. No currículo de Goldfajn estão passagens pelo Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, e pela Casa das Garças, instituição neoliberal do Rio de Janeiro: “Francamente, é possível esperar que as políticas monetárias do BC sob seu comando contrariem algum interesse dos bancos?”
Mas Temer não parou por aí, escreve Boulos. O novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, é “outra astuta raposa”, segundo ele: “O homem agora responsável por dirigir o SUS (Sistema Único de Saúde) e as políticas de saúde no Brasil teve como maior financiador de sua última campanha eleitoral ninguém menos que o presidente da Aliança, administradora de planos de saúde”.
E fez questão de mostrar a quem serve: falou em reduzir o SUS, ampliar os planos privados. Disse ainda que não cabia ao Estado controlar a qualidade dos planos e “que o grande problema é a judicialização dos clientes contra as empresas privadas de saúde. Sim, exatamente. Os planos não cumprem com serviços estabelecidos em contrato, atrasam consultas e cirurgias, fazem cobranças indevidas e o problema são os clientes que entram na Justiça para assegurar seu direito. Esse é o ministro da Saúde”.
Boulos concluiu seu artigo dizendo que, levado ao poder “por manobras sombrias, sem a legitimidade do voto popular, Michel Temer também será lembrado como aquele que entregou o Estado brasileiro ao desmando das raposas. As galinhas, não se esqueçam, somos nós”.
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