Brasil mata seis atentados de Orlando a cada ano

Manifestação LGBT em São Paulo - Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas (04/05/2014)
Manifestação LGBT na avenida Paulista, em São Paulo – Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas (04/05/2014)

O historiador Marcelo Cerqueira, vice-presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), disse que não há registro de um outro atentado dessa magnitude contra os gays: “Nunca tivemos casos assim, seja em paradas gays, seja em boates. Isso atingiu a todos nós. Foi uma bestialidade, um atentado contra os homossexuais do mundo inteiro”.

Cerqueira afirma que hoje existe uma ofensiva conservadora muito forte contra os direitos individuais, que também afeta o Brasil. Mas esse massacre promovido pelos extremistas islâmicos na boate em Orlando não tem paralelo com as investidas da extrema-direita norte-americana: “Não há uma relação direta entre essas duas ofensivas”. Ele ressalta que a Flórida e a Califórnia são Estados que mais respeitam as liberdades individuais em todo o País.

“Foi uma coisa premeditada, para gerar comoção e repercussão”, disse Cerqueira. “E foi também um recado do que pode acontecer na América Latina. É preciso que o mundo fique alerta para combater e denunciar essas atitudes de violência”.

O historiador observa que, na verdade, só neste ano o Brasil já registrou um número de assassinatos de pessoas LGBT muito superior ao registrado nos Estados Unidos: só neste ano, 125 homossexuais foram assassinados no Brasil, o que corresponde a mais de duas vezes o total de mortos em Orlando. No ano passado inteiro foram registrados 318 assassinatos no Brasil.

“É um número absurdo”, diz Cerqueira. “Nos países desenvolvidos esse dado é muito menor”. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve 20 homicídios de pessoas LGBT em 2014, contra 326 no Brasil. Segundo ele, isso ocorre por que o preconceito contra a orientação sexual é muito maior nas regiões mais subdesenvolvidas.

Ele observa que só neste ano foram mortos 25 homossexuais na cidade de São Paulo, contra 14 em Salvador. Ocorre que São Paulo tem uma população de 11,3 milhões, contra 2,7 milhões de Salvador. Na prática, a capital baiana tem o dobro de mortes.


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