Diante de mais uma tentativa sem sucesso de destravar um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), a presidenta Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira (11) que não ficou frustrada com a falta de resultados e que negociações desse tipo não são triviais e dependem de acordos internos nos blocos.
Dilma participou ontem (10) e hoje da 2º Cúpula entre a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia. A expectativa era de que a cúpula pudesse ser o cenário para o avanço da negociação entre o Mercosul e a UE, com a apresentação de suas ofertas comerciais, quando os dois lados montam uma lista de quais produtos poderão ter as tarifas zeradas. A apresentação tem que ser simultânea e já chegou a ser negociada em 2013 e 2104, mas não aconteceu.
“Não saio frustrada, isso não significa que não terá a data. Nós fazemos a proposta, aí eles têm de olhar as condições deles e fazer a mesma proposta. Acredito que é muito importante o Mercosul sinalizar que vai unido, acho que eles também vão ter de sinalizar porque, apesar de a Comissão Europeia ter o poder de firmar um acordo, esse acordo tem de ser de 27 países, não é trivial, nenhum país é igual ao outro”, avaliou, em entrevista antes de embarcar de volta ao Brasil.
Dilma defendeu a relação do Brasil com a Argentina, principal opositora do acordo com a UE dentro do Mercosul, e negou que o governo tenha “perdido a paciência” com o país vizinho.
“Essa visão de que o governo perdeu a paciência com a Argentina não representa jamais o que o governo brasileiro pensa. A Argentina é um grande parceiro, temos de ter toda a consideração com a Argentina e não existe motivo para a Argentina não ir conosco”, ponderou. A presidenta argentina Cristina Kirchner não participou da cúpula em Bruxelas.
Dilma disse que criticar a posição da Argentina é uma tentativa de culpar sempre os latino-americanos e lembrou que a União Europeia também tem divergências internas sobre acordos comerciais com outros países e blocos.
“Vinte e sete países integram a União Europeia, se a gente não considerar que são países diferenciados e que eles têm também de fazer suas discussões, seria algo fantástico. Por que até hoje não saiu ainda um acordo entre a União Europeia e os Estados Unidos? Por que não saiu acordo entre a União Europeia e o Japão? Acordos bilaterais podem ser difíceis para qualquer país ou para qualquer região”, comparou.
Dilma disse que nenhum acordo que venha a ser fechado entre os blocos deve impedir a continuidade da Rodada Doha, um ciclo de negociações para liberalização do comércio mundial, iniciado em 2001. Os principais impasses estão nas negociações entre os países em desenvolvimento e desenvolvidos nos setores de agricultura, facilitação de comércio, dos serviços e manufaturados.
“Na verdade, [a Rodada Doha] é o que criaria um outro ambiente, um completo e diferente ambiente para o comércio internacional entre todos os países. Teria um efeito grande no Produto Interno Bruto do mundo um acordo internacional do padrão de Doha”.
Após a entrevista, a presidenta embarcou para o Brasil e vai pousar em Salvador, onde participará da abertura do 5º Congresso Nacional do PT. Segundo ela, a reunião será importante para o partido, “que está em um momento de reflexão”.
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