Um ano e meio de crise política ininterrupta jogou nas cordas um país alegadamente promissor. No dia seguinte à citação de envolvimento de Michel Temer e mais 24 políticos na Operação Lava Jato, a pergunta que resta ao brasileiro é uma só: afinal, de quem é a culpa pelo que acontece ao Brasil?
Será do PT, do Lula, da Dilma? Será que agora é do PMDB e de Michel Temer? A culpa é de toda a classe política? Ou é do Judiciário e seus vazadores de delação premiada? E a banalização dessas delações? Mas e se o culpado for a imprensa, o tal quarto Poder?
O brasileiro nunca desconfiou da habilidade dos nossos políticos em planejar falcatruas e há tempos engole seco a impotência diante de tanta corrupção. Mas aí Dilma foi reeleita com vantagem tão apertada que a oposição, o mercado financeiro e a imprensa tradicional – tacitamente – entraram de cabeça na missão de trocar de presidente. Engajados, jornais e revistas se lançaram a publicar tudo o que dizia respeito à Operação Lava Jato. A esperança era desenterrar os podres do PT e encontrar algum crime que comprometesse Dilma e Lula, a grande incógnita para 2018.
Os escrúpulos foram dispensados durante o processo. A Justiça Federal em Curitiba chegou a divulgar grampo ilegal envolvendo conversa entre a presidenta eleita e seu padrinho político pouco depois do show midiático que se transformou a condução coercitiva de Lula à Polícia Federal.
Mas a fonte inesgotável de denúncias e manchetes eram as delações: depoimentos de criminosos confessos que, em troca de uma pena mais branda, juram dizer a verdade sobre outros criminosos. Embora quase sempre careçam de provas, tais delações estampam o noticiário há pelo menos 18 meses.
Por quase todo esse tempo, os vazamentos foram descaradamente selecionados: as primeiras vítimas foram petistas, como o ex-senador Delcídio do Amaral (agora sem partido), ou políticos ligados ao então governo. Foi só com o afastamento de Dilma, em maio, que a Lava Jato e o próprio Poder Judiciário entraram em descrédito e os políticos do governo provisório se transformaram em vidraça.
Na ânsia de retomar a credibilidade desbotada, procuradores e juízes passaram a vazar as delações contra os figurões da direita, como o senador Romero Jucá (PMDB-RR), a primeira vítima do governo interino. De lá pra cá, os vazamentos se avolumaram, PMDB, PSDB, PP, DEM, PV e até o PCdoB foram citados até o fatídico 15 de junho de 2016, quando Michel Temer, o homem que iria “unificar o Brasil”, finalmente ganha sua manchete, também baseada em delação premiada recém-acordada e, portanto, não apurada pelos investigadores, como quase tudo que se refere à Lava Jato.
O “homem-bomba” da vez, como adoram os editores, é Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que gravou tudo e todo mundo. Ele afirma que, em 2012, o interino pediu doação ilegal de R$ 1,5 milhão à empreiteira Queiroz Galvão para bancar a campanha de Gabriel Chalita (então PMDB) à Prefeitura de São Paulo. Segundo o delator, Temer teria sido reconduzido ao cargo de presidente do PMDB depois que a JBS doou R$ 40 milhões à legenda. Sua missão seria “controlar” o destino da verba.
Com Temer, outros 24 políticos acabaram citados por Machado, como os peemedebistas Renan Calheiros, José Sarney e Edison Lobão, o tucano Aécio Neves, Francisco Dorneles (PP), Marco Maia (PT), Cândido Vaccareza (PT) e Jandira Feghali, do PCdoB. Pode-se acreditar ou não na inocência dessas pessoas, mas será que os depoimentos de Machado e de outros tantos delatores devem mesmo ser divulgados como verdade sem que tenha havido qualquer investigação profunda?
O Brasil precisa sair das cordas. A população alienada politicamente poderia desviar o olhar do próprio umbigo e voltá-lo para a urna eletrônica, ladainha antiga. Chegou a hora de uma reforma política, de um Judiciário menos preocupado com seus vencimentos e de uma imprensa que volte a apurar as informações que recebe em vez de dar como verdadeiros quaisquer depoimentos prestados por criminosos confessos.
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