De um lado Thammy Miranda: homem trans, filho da icônica dançarina e cantora dos anos 80 Gretchen e de um policial civil, ator, empresário e candidato a vereador pelo PP. De outro, Luiza Coppieters: mulher trans, educadora, ex-professora de filosofia do colégio Anglo e pré-candidata a vereadora pelo PSOL.
Em polos opostos no espectro político, os dois únicos candidatos trans na cidade de São Paulo estiveram reunidos em um debate no Teatro Studio Heleny Guariba, na Praça Roosevelt, região central da cidade, para discutir políticas voltadas ao público LGBT.
Diante de um público majoritariamente de esquerda, Thammy Miranda se viu hostilizado por pertencer a um partido conservador, oriundo da Arena, agremiação de direita que apoiou a ditadura civil-militar no Brasil, e pelo qual já passou nomes como do deputado federal Jair Bolsonaro, hoje no PSC. “Mas é isso mesmo o que eu busco”, justifica. “Quero que a diversidade tenha espaço dentro de um partido conservador. Infelizmente o Bolsonaro não está mais lá, porque meu interesse é bater de frente com ele.”
Em sua fala de apresentação no debate, o candidato do PP, também coordenador do núcleo de diversidade do partido, disse que, por mais que tivesse entrado na política, jamais seria um político: “Para mim isso é quem faz roubalheira, lobby. Eu não faço esse jogo”.
Luiza logo se opôs a essa ideia: “A demonização da política é uma reprodução do discurso da grande mídia, monopolizada por meia dúzia de famílias. Ser político é nossa condição enquanto seres humanos em sociedade. Me preocupa muito esse seu discurso de messias. Daqui a pouco surge um Jair Messias”, provocou.
Do público, a clara mensagem de que ser trans não faz de Thammy representante da comunidade LGBT. Uma mulher trans perguntou aos candidatos qual seria a política voltada aos moradores de rua LGBT. Thammy respondeu de pronto: “A mesma que para qualquer outro morador de rua. São iguais”. A espectadora então rebateu: “Como iguais? Eu sou moradora de rua, casada com um homem hétero e não quero apanhar no albergue toda vez que eu beijo meu marido. Também não quero tomar banho com um monte de homem”. Como que pego de surpresa, Thammy balbuciou: “Temos que rever isso, então”.
Luiza lamentou a baixa qualidade do debate e qualificou a resposta do adversário de “irresponsável”: “Estou perplexa”, disse.
Quando perguntado sobre quem era o principal inimigo para a comunidade LGBT na política, Thammy, em meio a vaias, respondeu: “Acho que o nosso maior inimigo somos nós mesmos. Brigamos entre nós ao invés de unir forças”.
Ao fim do debate, o candidato do PP abriu mão dos minutos de encerramento: “Não vou falar nada porque meu discurso é raso mesmo”, ironizou. “E também porque quem muito fala pouco faz.”
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