Colunista da Folha diz que jornal deve explicações sobre manchete enviesada

O líder do MTST e colunista da Folha, Guilherme Boulos - Foto: Mídia Ninja
O líder do MTST e colunista da Folha, Guilherme Boulos – Foto: Mídia Ninja
A maneira como o jornal Folha de S.Paulo divulgou os dados da pesquisa Datafolha sobre o cenário político atual foi criticada até mesmo por um dos colunistas do jornal. Em seu artigo Datafolha em xeque, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, criticou o comportamento do jornal, que não divulgou a informação de que 62% dos brasileiros defendiam a convocação de novas eleições. 

No domingo, o jornal havia afirmado que 50% defendiam a permanência de Michel Temer no governo, 32% queriam a volta de Dilma Rousseff, e só 3% defendiam novas eleições, o que contrariava os levantamentos feitos recentemente por outros institutos. Questionada pelo jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, a diretora do Datafolha, Luciana Schong, disse que “qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seria imprecisa, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas”. Ela reconheceu “o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições”, “já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados”.

Em sua coluna na Folha, Boulos diz que costuma-se dizer que “os números não mentem. É verdade, por si só são puros como a madre Teresa. Mas podem ser levados para o mau caminho. O problema não está nos números, mas em quem os usa e como os usa”.

Em seguida, ele comenta a manchete do jornal de domingo (17): “50% preferem manter o presidente interino Michel Temer até 2018”, acrescentando que o título do site era ainda mais enfático: “Para 50% dos brasileiros, Temer deve ficar”. E comenta: “Ora, bom para Temer. Melhor ainda se fosse verdade… Dizer que 50% dos brasileiros querem a permanência de Temer contraria todas as pesquisas recentes” do Ibope e Vox Populi.

“Mas o maior ponto fora da curva”, diz Boulos, “diz respeito ao tema das novas eleições. Na pesquisa do Datafolha o número dos que apontam essa alternativa é de míseros 3%. Ora, o último levantamento do próprio Datafolha feito em abril indicava 79%. E o do Vox Populi, há menos de um mês, indicou 67%. Seria um case da história da estatística não fosse resultado de um viés comprometedor na questão da última pesquisa”.

O problema, explica o colunista da Folha, é que “a pergunta feita aos entrevistados foi binária: Dilma ou Temer. Ponto. Nenhuma outra alternativa foi apresentada”. A opção de novas eleições não foi apresentada ao entrevistado naquela pergunta: os 3% que pediram novas eleições tiveram de fugir das duas opções apresentadas. Isso transmitiu a impressão de que o percentual dos que defendem novas eleições é muito menor do que realmente é. Isso ficou claro quando o Datafolha divulgou, após os questionamentos feitos por outros sites, que 62% dos brasileiros defendem essa opção.

Boulos comenta: “Seria algo como perguntar a um grupo de pessoas se preferem chuchu ou jiló. O fato de metade optar por jiló não autoriza afirmar que 50% da população daquele grupo tem o jiló como preferência alimentar”.

Boulos afirma que “a impopularidade de Dilma foi usada de maneira oportunista para sustentar um impeachment sem base legal. Isso fica mais claro a cada dia, com o desgaste do argumento das pedaladas. Agora, querem usá-la para legitimar o governo de Michel Temer, querendo apresentá-lo como ‘menos impopular’.” E cita a seguir Glenn Greenwald, que descobriu que o jornal tinha omitido dados da pesquisa.

Boulos conclui: “É difícil crer que a manchete enviesada a partir de uma pergunta binária tenha sido um simples descuido. Principalmente em se tratando de um tema tão decisivo para a situação política atual. Tanto o instituto quanto a Folha devem explicações aos seus leitores e à sociedade”.


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