Crise no Brasil preocupa mais do que na França, diz cientista político francês

Movimentos sociais crescem no Brasil e na França. Fotos: Oswaldo Corneti (18/03/16)-Force ouvrière (31/03/2016)/Fotos Públicas
Movimentos sociais crescem no Brasil e na França. Fotos: Oswaldo Corneti (18/03/16)-Force Ouvrière (31/03/2016)/Fotos Públicas

Dois especialistas em ciência política franceses, que trabalham com vínculo com a política brasileira, comparam a situação do Brasil com a da França, onde os movimentos sociais ganham cada vez mais força contra a adoção de uma nova lei trabalhista, mais “flexível”, empurrada goela abaixo pelo governo socialista de François Hollande.

Assim como o afrouxo da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) proposto pelo presidente interino Michel Temer no Brasil, o governo francês quer facilitar demissões e contratações para empresários sob a justificativa de combater o desemprego.  O problema é como Hollande decidiu fazer isso: ele invocou um artigo constitucional que o permitiu não passar pela Assembleia Nacional (nossa Câmara dos Deputados) um projeto de lei que aumenta a jornada e facilita demissões.

Por aqui, além de aumentar a idade mínima para a aposentadoria, a equipe econômica de Temer defende a aprovação de uma lei que autoriza que acordos coletivos se sobreponham à CLT.

Enquanto políticos e empresários mexem suas peças lá e aqui, cresceram nos dois países movimentos sociais que contestam essas propostas. À Brasileiros, Gaspard Estrada, diretor do Observatório Político da América Latina e do Caraibe (OPALC), especialista em França, Brasil e México, disse que “esses movimentos ilustram o medo que as populações têm de perder seus direitos sociais adquiridos”.

Professor de Ciência Política na Universidade Livre de Bruxelas e consultante especialista do Brasil na Sciences PO Grenoble,  Frédéric Louault acredita que essas medidas liberais não têm nada de surpreendente. “Trata-se, para os dois casos, de políticas animadas pela tendência mundial de uma economia globalizada que estão indo na mesma direção liberal. Isso acontece em vários lugares do mundo.”

Segundo Louault, a França e outros países europeus já entraram nesta fase do capitalismo há pelo menos uma ou duas décadas. Quanto ao Brasil, o movimento se justifica pelo “fim generalizado, na América Latina, de um circulo de governos de esquerda, ilustrado pelo começo de uma guinada à direita”.

Para Gaspard Estrada, esses acontecimentos, mais do que uma justificação política, se vinculam mais à crise econômica do que a um fim do ciclo de esquerda. “Os eleitores fazem escolhas nas urnas mais em função da situação econômica do país do que o posicionamento político dos partidos.”

Os dois especialistas concordam sobre o fato de que os dois presidentes, Michel Temer e François Hollande, são muito impopulares. Porém, enquanto “existem na França e na Europa as ferramentas para recuperar a legitimidade das instituições”, diz Estrada, no Brasil o futuro pode ser mais pessimista.

 “A crise no Brasil é mais explosiva, mais profunda e as respostas da classe politica (com o Impeachment de Dilma Rousseff) foram bem abaixo do que o país realmente precisa para se recuperar”, disse.

Ele defende que a resolução passa por “reformas políticas com mudanças do regime, do modo de sistema de votação dos parlamentares e do financiamento da política”.

Estrada disse que, infelizmente, o que vai acontecer no Brasil será o contrário desejado por quem hoje se mobiliza contra o impeachment. “Os que saíram vitoriosos depois do impeachment são os que não vão deixar passar as reformas necessárias para o País justamente porque elas poderiam prejudicá-los”, argumentou.

Quanto à situação na França, os movimentos devem se acalmar em breve. Para Frédéric Louault, os protestos são, principalmente, o resultado de uma união de pessoas que estão contra a política de François Hollande, sejam elas de direita ou os decepcionados da esquerda. Louault adiciona que, por outro lado, “existe uma parte da população que está até a favor do projeto, como os sindicatos de empresários e os mais liberais”.


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