O agricultor Braz Teixeira, 45 anos, chegou ao Acampamento Nacional pela Democracia e Contra o Golpe na tarde de sexta-feira (15). Veio de Altamira (PA), a mais de 1.900 km de distância do Ginásio Nilson Nelson, em Brasília. Foram dois dias de viagem. “Foi cansativa”, conta Teixeira. “Mas também foi muito gostosa porque é pela democracia, pelas conquistas dos trabalhadores.”
A caravana de trabalhadores rurais de Altamira viajou em três ônibus. Em poucos minutos, os agricultores e suas famílias instalaram redes em uma área coberta do estacionamento do ginásio. “Vale a pena estar aqui. Não viemos por nós. Viemos por um monte de pessoas que ficaram lá e principalmente porque nossa região é muito sofrida”, explica. Teixeira diz sesr contra o impeachment porque viu a vida das pessoas mais pobres melhorar. “Temos visto muitas melhorias. Nos outros governos, os programas sociais não chegavam lá.” Altamira tem Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0,534, considerado baixo pelas Nações Unidas.
Desde o último domingo (10), o Ginásio Nilson Nelson abriga o Acampamento Nacional pela Democracia e Contra o Golpe. Todos os dias chegam ônibus de diversos Estados do País, trazendo militantes de movimentos sociais (movimento negro, de trabalhadores rurais sem terra, de trabalhadores sem teto, indígena, de mulheres, juventude, LGBT, entre outros), centrais sindicais, entidades estudantis e coletivos de cultura e de comunicação.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e deputados contrários ao impeachment estiveram no acampamento na manhã deste sábado (16). A ex-ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres Eleonora Menicucci leu a carta da presidenta Dilma Rousseff em que ela afirmou que “essa luta de vocês é minha também”.
Do lado de fora da tenda que abrigou as autoridades, um grupo de indígenas fazia um ritual de agradecimento aos antepassados e à natureza. “Se a natureza acabar, nós acabaremos também”, alertou o cacique Dilvan José da Costa, 28 anos, dos Xakriabá. Segundo ele, os direitos indígenas são violados diariamente. Defendem a permanência da presidenta porque querem “avançar na luta pela demarcação de terras indígenas”.
Uma outra área do acampamento abriga as cozinhas, divididas por Estado. As panelas dos trabalhadores rurais de Goiás, no almoço e no jantar, estão cheias de quiabo orgânico cultivado no assentamento Dom Thomas, de Formosa (GO). O responsável por comandar a cozinha é Joseli Ferreira Cunha, o Zelito. Ele sabe como ninguém como preparar quiabo sem deixar que a baba se espalhe nas gigantes caçarolas. Formam-se longas filas para provar da comida de Zelito. Ele revela que o segredo é mexer o quiabo movimentando a panela, sem colocar a colher no alimento.
Não é pouco o trabalho de Zelito. Ele prepara, a cada refeição, 20 quilos de quiabo e serve cerca de 200 pessoas. Não reclama. Acha que faz parte de uma sociedade democrática defender os direitos das populações menos favorecidas. “Se o impeachment passar, vai tudo por água abaixo. Não sabemos se um próximo dirigente faria reforma agrária”, afirma.
Ninguém reclama do esforço que é estar no acampamento, dormir em condições desconfortáveis, viajar por longos caminhos. Zelito não tem dúvidas de que compensa. “A gente mostra nosso trabalho, nosso esforço, nossa vontade. É isso que alimenta o nosso sonho. Para todo mundo aqui, isso é um sonho.”
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