Deputados deram show burlesco no plenário; que credibilidade é essa?

Deputados fazem espetáculo aos moldes circenses em plenário. Foto: Marcelo Camargo/Fotos Públicas (17/04/2016)
Deputados fazem espetáculo aos moldes circenses em plenário. Foto: Marcelo Camargo/Fotos Públicas (17/04/2016)

Domingo, 17 de abril, à tarde, liguei a televisão como milhões de brasileiros e assisti a exposições políticas bizarras, teatrais e exageradas. Um desfile de deputados cheios de gestos, mímicas, gritando até beirar a perda da voz, como se o volume empregado nas falas ao microfone garantissem credibilidade às orações [em seu duplo sentido]. Homens engravatados pulando feito menininhos. Um espetáculo burlesco.

Cartazes e faixas, algumas delas levadas sobre os ombros, exibiam “gritos de guerra” como “Impeachment já” “Fora Dilma” ou “Fora Cunha”. O espetáculo apresentado numa votação tão séria esteve mais para uma partida de futebol. Houve de tudo, o que para mim, como espectadora estrangeira, foi ao mesmo tempo curioso e surpreendente. Por exemplo, jamais imaginei ver em uma sessão que decide o destino de um país um deputado lançar confetes para o alto, a exemplo do que eu vira em Florianópolis, em 2013, mas era Carnaval. Tampouco vira homens engravatados dançando sorridentes como se seu rebolado e seus braços esfuziantes evocassem o espírito do impeachment.

Teve show no plenário! Era para encarar com seriedade e dizer sim ou não, os dez segundos propostos para tais respostas eram mais que suficientes. Mas não foi assim. Foi longo, com berros, risadas, gente ao celular, foi demorado. Uma verdadeira tortura, desnecessária até para eles próprios.

Mas justiça seja feita. Embora surpreendente pelas atitudes, devido à importância de sua causa [o sim ou o não ao impeachment], mentiria se dissesse ser a primeira vez em que eu presenciara algo tão espetaculoso. Na verdade, a votação do impeachment me fez lembrar comportamentos semelhantes protagonizados por políticos franceses. Veio-me à mente, por exemplo, a imagem de alguns deputados -velhos, machistas e desrespeitosos- assoviando e urrando em uma sessão da Casa quando uma deputada, que normalmente se vestia com poucas estampas, apareceu com um lindo vestido florido. Isso foi em 2012. Mas, aparentemente, o trauma não foi grande o bastante para barrar tal atitude. Em 2015, parlamentares insanos chamaram de macaca a ministra da Justiça à época, Christiane Taubira, pelo fato de ela ser negra. A lista é longa.

Claro, não se pode alinhar os comportamentos nos plenários brasileiros e francês, mas o que se viu neste domingo foi inadequado para qualquer ambiente de trabalho, sobretudo na Câmara dos Deputados, cujos membros foram escolhidos pela população para representar seu país.

Na minha opinião, e tomara que eu me engane, aqueles que vêm no impeachment uma viagem para um novo Brasil, livre de todos os males que o gangrenam, deram, na verdade, mais um passo dentro do círculo do vício e da corrupção. Se dos 513 atores do espetáculo de domingo, 299 têm ocorrências judiciais e 76 já foram condenados, a maioria desse grupo, mesmo que a favor do impeachment e se dizendo ”contra a corrupção”, não pode ser confiável.

*Tatiana Marotta é jornalista e mestranda em Ciências Políticas na Université Sciences – Po, em Grenoble, França.


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