Dilma aponta manobra para salvar mandato de Eduardo Cunha

A ex-presidenta Dilma Rousseff concede entrevista no Palácio da Alvorada - Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A ex-presidenta Dilma Rousseff concede entrevista no Palácio da Alvorada – Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Acompanhada de seu advogado, José Eduardo Cardozo, a ex-presidenta Dilma Rousseff concedeu nesta sexta-feira (2) uma entrevista a correspondentes estrangeiros no Palácio da Alvorada. Ela afirmou que
 há uma tentativa de usar a sua absolvição para exercer cargos públicos para livrar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que enfrenta um julgamento por quebra de decoro.

O PSDB, o DEM, o PPS, o PMDB e o Solidariedade ingressaram nesta sexta-feira com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a decisão do Senado Federal que concedeu a Dilma Rousseff a permissão para que ela exerça funções públicas após o impeachment, com o objetivo de que o STF esclareça o alcance dessa decisão. Essa ação da coalizão que apoia o governo Michel Temer pode servir de base para a aprovação de medidas que beneficiem Cunha.

“Por que será que, de repente, quando está sendo votada a questão da minha inabilitação política no Senado, o nome de Cunha vem à público, sendo que até as emas do Alvorada sabem que a lei para mim é uma e para os deputados e senadores é outra?”. Segundo ela, “está por trás disso uma tentativa de introduzir no espaço político a ideia de que, já que me absolveram disso, terão de absolver também o Cunha. Não mesmo. Isso não”.

Dilma disse que ela não é acusada de possuir contas no exterior e nem de receber propina, como é o caso de Cunha: “No entanto, eu sou julgada e ele não. A própria imprensa noticia que há uma pressão enorme para ele não ser julgado, pois caso contrário ele pode colocar não só o presidente (Michel Temer) em questão, mas toda sua entourage”. 

A ex-presidenta acusou adversários de aprofundar a crise política para garantir o ambiente de impeachment, o que levou à deterioração da situação econômica do País. “O que tinha de problema no Brasil logo no início de 2015 era fácil de ser corrigido. Se não se tivesse aprofundado a crise, como cuidaram de aprofundar para garantir esse ambiente de impeachment, o Brasil já teria saído da crise”, declarou.

Dilma defendeu a votação em separada da perda do mandato e da inabilitação para ocupar cargos públicos, mas disse achar estranho que tenha havido um placar diferente nos dois sufrágios: “A segunda votação foi daqueles que consideravam que não era necessária uma punição tão forte. Eu sei que tinha muitos senadores indecisos, desconfiados de que esse processo não era o que pintavam, mas sei também que o governo interino fez uma imensa pressão”.

Segundo Dilma, por trás do impeachment há a ideia de que ou tiravam ela do poder ou as investigações da Lava Jato atingiriam muitos integrantes do PMDB. Um dos advogados que assinam a ação movida pelo PSDB no STF questionando o fatiamento da votação do impeachment é Tiago Cedraz,  que é investigado pela Operação Lava Jato por suspeita de recebimento de propina no esquema da Petrobras. Ele é filho do Tiago é filho do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União.

A ex-presidenta disse que vai recorrer do impeachment em todas as instâncias possíveis e que, nem por isso, seu impeachment deixa de ser um “golpe parlamentar”: “Mais uma vez a democracia foi julgada comigo e infelizmente nós perdemos. Espero que todos juntos saibamos reconstruí-la, que ao longo desse processo sejamos capazes de ter clareza daquilo que nunca mais pode acontecer”.


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