A presidenta Dilma Rousseff interrompeu o seu discurso e chorou na manhã desta quarta-feira (10) durante o ato de entrega do relatório final da Comissão da Verdade, no Palácio do Planalto, em Brasília, repetindo o gesto que ela havia feito em maio de 2012, na abertura oficial dos trabalhos. Dilma falava sobre os presos e desaparecidos políticos do período militar quando foi às lágrimas para, em seguida, ser aplaudida de pé pela plateia. O relatório será divulgado ainda nesta manhã.
“Vamos nos debruçar sobre este relatório, olhar as recomendações e propostas da Comissão da Verdade e tirar todas as consequências necessárias. Esperamos que este relatório contribua para que os fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger na sombra da omissão. Reconheço e agradeço, sobretudo, aqueles que, com coragem e enorme generosidade, aceitaram testemunhar e contar suas histórias e as histórias de amigos e companheiros de que viveram tempos de dor, sofrimento e grandes perdas”, dizia, quando começou a chorar e interrompeu a fala. Em seguida, com a voz embargada, continuou discursando até o final.
A presidenta também disse que, apesar das informações que o relatório vai revelar, a iniciativa não pode criar motivações para acertos de contas. “A verdade não significa a busca de revanche. A verdade não precisa ser motivo para ódio ou acerto de contas, pois ela liberta daquilo que permaneceu oculto e de lugares que não sabemos os corpos de muitas pessoas. Mas, faz com que agora, tudo possa ser dito, explicado e sabido. A verdade produz consciência, aprendizado, conhecimento e respeito. A verdade significa, acima de tudo, a oportunidade de apaziguar cada indivíduo consigo mesmo e um povo com a sua história”, completou.
Por fim, Dilma também valorizou o trabalho da Comissão da Verdade e disse que a investigação vai fortalecer a democracia brasileira. “A sociedade saberá reconhecer a importância deste trabalho, que torna nossa democracia ainda mais forte. Tornar público este relatório nesta data é um tributo a todas as mulheres e homens do mundo que lutaram pela liberdade e pela democracia e, com essa luta, ajudaram a construir marcos civilizatórios e tornaram a humanidade melhor”, finalizou ela.
Leia o relatório final da Comissão da Verdade aqui
Comissão da Verdade
A Comissão da Verdade foi constituída em maio de 2012, pela presidenta Dilma Rousseff, em meio a protestos de alguns parlamentares, como Jair Bolsonaro (PP-RJ) e militares da reserva. A proposta da comissão havia sido elaborada pelo ex-presidente Lula, em 2011, mas já era debatida desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião do lançamento, foram nomeados os advogados José Carlos Dias, José Paulo Cavalcanti Filho, Rosa Cardoso e Pedro Dallari; a psicanalista Maria Rita Kehl e o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro como responsáveis pelos trabalhos de investigação e pesquisa de dados históricos da ditadura militar brasileira, que durou entre 1964 e 1985. “O Brasil merece saber a verdade. O Brasil precisa saber a verdade”, disse Dilma, também entre lágrimas, à época.
A presidenta ficou presa entre 1970 e 1972 na prisão de Tiradentes, em São Paulo, por sua atuação na esquerda clandestina.
O relatório que será divulgado nesta quarta-feira (10) é composto de três volumes e dividido em 18 capítulos e trata de assuntos variados, como a Guerrilha do Araguaia, no Norte do país, a Operação Condor, os órgãos de repressão e os nomes dos mortos, desaparecidos e também dos responsáveis por sessões de tortura, prisões e mortes.
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