Dilma diz que Temer é um traidor e se diz estarrecida

Presidenta Dilma Rousseff fala a jornalistas. Foto: Roberto Stuckert Filho/Fotos Públicas (18/04/2016)
Presidenta Dilma Rousseff fala a jornalistas. Foto: Roberto Stuckert Filho/Fotos Públicas (18/04/2016)

 

Um dia após a Câmara dos Deputados aprovar a abertura do seu processo de impeachment, a presidenta Dilma Rousseff acusou o vice-presidente Michel Temer de ser um traidor, durante entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira (17), em Brasília: “É estarrecedor que um vice-presidente no exercício de seu mandato conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia uma pessoa fizesse isso seria respeitada. A sociedade humana não gosta de traidor”.

A presidenta disse que agora terá a oportunidade de se defender no Senado Federal:  “Essa luta será muito longa e demorada.  Não é por mim. É pelos 54 milhões de votos dos brasileiros. É uma luta pela democracia no nosso país”. 

“Tenho e força, ânimo e coragem. Eu não vou me abater. Eu vou continuar lutando, como fiz em toda a minha vida”, disse. Ele repetiu que sempre lutou pela democracia: “A democracia é sempre o lado certo da história. Isso quem me ensinou foi a história do meu país”.

Questionada se sua experiência na ditadura foi mais dolorosa, ela comentou: “A ditadura é um milhão de vezes pior. A ditadura é, sem sombra de dúvida, o pior dos mundos. Não tem comparação”.

A presidenta afirmou que a luta só está começando e que confia na vitória: “Tenho esperança de que, mais cedo ou mais, tarde, conseguiremos impedir esses processos sem base legal”.

Ela reafirmou que conta com o apoio do ex-presidente Lula, mas acrescentou que será preciso reconstruir o governo: “Acredito que será necessário um grande rearranjo do governo. Teremos um novo governo. Estou enfrentando o quarto turno [eleitoral]. Já enfrentei o primeiro, o segundo, o terceiro turno. Estou enfrentando o quarto”.

Dilma disse que se sentiu indignada com a decisão da Câmara. Ela reafirmou que o processo de impeachment não tem base legal, uma vez que ela não cometeu crime de responsabilidade.

“Os atos pelos quais me acusam foram praticados por outros presidentes antes de mim e não foram considerados atos ilegais ou criminosos. Portanto, quando me sinto indignada e injustiçada, é porque a mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém. Atos baseados em pareceres técnicos. Nenhum deles beneficia a mim diretamente. Não são atos praticados para que eu enriquecesse indevidamente”, afirmou.

Referindo-se ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ela afirmou que “aqueles que têm conta no exterior” presidiram o processo. Ela declarou que possui a “consciência” que não há ilegalidade nos atos que assinou e motivaram o pedido de impeachment: “Não os fiz ilegalmente e baseado em nenhuma ilegalidade. Tenho certeza que sabem que é assim. Todos sabem que é assim.”

Dilma disse que assistiu a todas as intervenções dos deputados durante a votação e não viu “uma discussão sobre o crime de responsabilidade, que é a única maneira de se julgar um presidente no Brasil”: “Injustiça sempre ocorre quando se esmaga o processo de defesa, mas também quando, de uma forma absurda, se acusa alguém por algo, primeiro, que não é crime, e segundo, acusa, e ninguém se refere a qual é o problema”, disse.

Ela descartou que a aprovação do impeachment tenha sido motivada pelo ressentimento dos deputados contra o tratamento que eles recebiam do Palácio do Planalto: “Qualquer governo pode cometer erros, mas ressentimento propriamente dito não é justificativa para qualquer processo de impeachment. Ressentimento pode haver entre pessoas. Neste caso acredito que as razões são outras, não são essas. O presidente da Câmara conduziu esse processo como quis”.

Sobre o uso de jatinhos de empresários para levar deputados para votar pelo impeachment, ela comentou: “Se isso ocorreu, os órgãos competentes têm de investigar. Tenho certeza de que, se houve, será investigado. Se houve, é lamentável”.

Ela também negou que esteja avaliando uma proposta de reduzir o seu mandato e convocar novas eleições.


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