Em um de seus discursos mais duros desde que foi afastada da Presidência da República, a presidenta Dilma Rousseff denunciou nesta segunda-feira (30), em Brasília, o que chamou de golpe levado a cabo por uma oligarquia feita de “homens brancos, velhos, ricos e machistas”, que se uniram para tirar do poder um governo popular.
A presidenta foi a principal palestrante na UnB (Universidade de Brasília) durante o lançamento do livro “A resistência ao golpe de 2016”, de diversos autores, que, como diz o título, conta como parte da população vem se organizando para impedir que Dilma seja definitivamente afastada do cargo.
Em um discurso firme e à vontade, a presidenta tentou explicar as razões para o atual momento político, e resumiu em duas razões principais para o golpe: “Um motivo é parar a Lava Jato e o outro é impedir a nossa política de inclusão social. Por que agora?”, questionou. “Toda a crise implica em uma questão séria: não existe crise sem conflito de distribuição de riqueza.”
A presidenta, que começou seu discurso lembrando ser “mais velha” do que a plateia e por isso já tinha visto outros golpes, afirmou que a principal semelhança entre este golpe e a derrubada do governo em 1964 é que, mais uma vez, se trata de “uma oligarquia derrubando um governo popular”, em alusão à queda de João Goulart, que na época tentava emplacar medidas progressistas, como a reforma agrária.
Mas “há uma diferença deste golpe e ao que levou ao período de mortes, sequestros e exílios” na década de 1960. “Este não interrompe o processo democrático, ele corrói o processo democrático, ele desgasta o processo. É como um parasita. […] Usam a democracia contra ela mesmo. Um golpe frio. Se a imagem de uma árvore sendo cortada por um machado representa um golpe militar, uma árvore democrática sendo morta por um parasita representa o golpe que estamos vivendo [agora]”.
Sob aplausos, Dilma lembrou que “como todos os outros golpes, ele detesta ser chamado de golpe” e falou que as gravações que vêm derretendo o governo “interino e ilegítimo” tem “farta conversa a respeito de evitar que a sangria os atinja, que seus crimes sejam desvendados, que […] sejam desmascarados e que por isso eu tenho de ser afastada”.
Dilma lamentou a decisão de Temer de cortar subsídios do Minha Casa Minha Vida para as camadas mais pobres da população. “Ora, se não vão atender a fase 1, onde está 80% do déficit habitacional, não vão atender nenhum pobre neste País. E se são contra subsídio, são contra que os impostos sejam revertidos para pagar a imensa dívida deste País com a população que nada tem.”
“O mais grave”, disse ela, é “para nós mulheres” porque “é um governo de homens brancos, velhos, ricos e machistas. Isto está claro na ausência de mulheres no primeiro escalão do governo. Temos de chegar aos 50%, mas o máximo que atingimos foram oito mulheres no primeiro escalão dos ministérios”. Ela lembrou que apesar disso, pela primeira vez na história, mulheres dirigiram instituições como a Petrobras e a Caixa Econômica Federal.
Sob aplausos, pediu democracia como o melhor dos antídotos: “Temos de lutar dentro da democracia contra eles. Temos de usar a democracia contra este golpe.”
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