Dilma: “O golpe é misógino, homofóbico e racista. Vamos recorrer!”

Foto: Maria Carolina Trevisan
Foto: Maria Carolina Trevisan

Vestida inteiramente de vermelho, acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de aliados, a presidenta definitivamente afastada pelo Senado, Dilma Rousseff, fez um duro e emocionado discurso contra seu afastamento no qual classificou a cassação de seu mandato como um golpe contra as minorias do Brasil “por políticos que buscam desesperadamente fugir do braço da Justiça”.

Dilma iniciou seu discurso afirmando que o processo pelo qual passou “entra para a história das grandes injustiças”. “Escolheram rasgar a Constituição (…) Não ascendem pelo voto direto como eu e Lula fizemos. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado”, disse, visivelmente emocionada. “Uma eleição indireta de 61 senadores substituem a vontade de 54,5 milhões de votos.”

Segundo a ex-presidenta, ela e o PT não pretendem aceitar o resultado passivamente: “Uma fraude que vamos recorrer em todas as instâncias possíveis.” Dilma afirmou que o golpe “leva ao poder um grupo de corruptos investigados” em substituição “ao projeto nacional progressista (…) interrompido por uma força conservadora com apoio de uma imprensa facciosa”.

Ao lembrar que “acabam de derrubar a primeira mulher eleita presidenta do Brasil” sem uma justificativa constitucional, disse que o golpe não foi cometido apenas contra ela e o PT. “Isso foi só o começo. O golpe vai atingir qualquer organização política democrática. É contra os movimentos sociais e sindicais e por quem luta por direitos em todas as suas afecções.”

Para a ex-presidenta, o golpe atinge diretamente o “direito dos negros, indígenas, da população LGBT, das mulheres”: “O golpe é misógino, homofóbico, racista. É a imposição da intolerância.”

Dilma fez, então, um chamado: “Apelo aos brasileiros que me ouçam, aos que votaram em mim. (…) Falo aos 110 milhões que participaram das eleições (…) Não desistam da luta, ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos nós vamos lutar. Haverá contra ele a mais incansável oposição que um governo golpista pode sofrer.”

Dilma garantiu que a interrupção de seu mandato pelo processo não é “definitiva”. “Não voltaremos apenas para satisfazer nossa vaidade. Nós voltaremos para continuar nossa jornada rumo ao Brasil em que o povo é soberano. Que saibamos nos unir todos os progressistas, independente de posição partidária. Contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, a extinção de direitos e o restabelecimento da democracia. Saio como entrei: sem incorrer em ato ilícito, nem traído meus compromissos e carregando no peito o mesmo amor pelos brasileiros e mesma vontade de lutar pelo Brasil.”

Ela também citou Darcy Ribeiro: “Não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A historia será implacável com eles como foi em décadas passadas.”

A petista também reservou um recado para as mulheres: “Peço que acreditem sempre que vocês podem. As futuras gerações saberão que a primeira vez que uma mulher chegou à presidência, o machismo mostrou suas feitas faces. Abrimos um caminho de mão única para a igualdade de gênero e nada nos fará recuar. Não direi adeus. Posso dizer até daqui a pouco.” 

E concluiu: “Um abraço especial aos que compartilham comigo a crença na democracia e o sonho da Justiça em todas as suas dimensões”.


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