A atual crise econômica levou a maior parte dos empresários a apoiar o afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Mas eles têm divergências profundas sobre as medidas que deveriam ser tomadas para permitir a recuperação da economia, e tampouco sabem se Michel Temer será mesmo capaz de implementá-las.
Os empresários concordam sobre os seguintes pontos: é preciso cortar gastos sociais, eliminando as vinculações constitucionais na saúde e educação; fazer uma reforma da Previdência, elevando a idade mínima para a aposentadoria; e flexibilizar ou suprimir direitos trabalhistas.
O problema, contudo, é que essas medidas tão impopulares precisariam ser aprovadas pelo Congresso Nacional num ano eleitoral, em que os parlamentares estão muito expostos ao julgamento público. O governo Temer correria o sério risco de se desgastar num momento em que o impeachment de Dilma ainda não foi aprovado pelo Senado. Mas, se deixar a discussão para o segundo semestre, não conseguirá aprovar nada, em razão do calendário eleitoral.
As medidas preconizadas pelos empresários já constam do programa “Uma ponte para o futuro”, divulgado por Temer no ano passado. Mas elas talvez não contem com o apoio dos parlamentares do PMDB, que até agora não demonstraram muita preocupação com o equilíbrio orçamentário, como ocorreu, por exemplo, na aprovação de aumentos de até 78,5% para os servidores do Judiciário.
E, a partir de agora, Temer sofrerá a oposição cerrada da esquerda, e talvez tenha uma sustentação precária de partidos como o PSDB e DEM. Quem deseja ficar com o estigma de prejudicar os assalariados? Se insistir nessa questão, o novo governo enfrentará forte resistência de setores que apoiaram o impeachment de Dilma, como a Força Sindical do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP).
Mas há outros problemas. Para os empresários do setor financeiro, o governo precisa urgentemente aumentar impostos, para equilibrar o Orçamento e, com isso, assegurar o pagamento dos juros: a prioridade dos bancos é dar segurança aos títulos públicos. A presidente Dilma já tentou recriar a CPMF para recompor o Orçamento, mas não teve o menor respaldo do Congresso.
Essa medida, porém, encontra a oposição ferrenha de empresários do setor produtivo, como o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Esse grupo concorda com a necessidade de suprimir direitos trabalhistas, mas não aceita nenhuma elevação de impostos. José Romeu Ferraz Neto, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo, já declarou ao jornal Folha de S.Paulo que “não adianta aumentar impostos, é preciso cortar despesas”.
Economistas ligados ao mercado financeiro, contudo, alegam que o governo não conseguirá equilibrar suas contas sem aumentar impostos, medida fortemente rejeitada na coalizão parlamentar que aprovou o pedido de impeachment. Em relação a esse ponto, não existe nenhuma possibilidade de consenso.
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